A andorinha enche, num dia
de abril, todos de alegria;
irradia-
-se a alegria,
só meu mal não se alivia.
Eis que a mesa delicia,
quando é posta, a maioria;
delicia a
maioria,
mas a mim me distancia.
Toda flor que antes morria,
em abril se abre à porfia;
contraria-
-me a porfia:
com emplastro a emplastraria.
Ver que há tanta vilania
ao redor já me angustia;
vilania
que angustia:
vou treinar a pontaria.
Que parede mais vazia!
E outras tantas! A elegia
se anuncia:
elegi-a
para expor minha agonia.
Sándor Weöres (1913-89), poeta húngaro.
Imagem por Jens Buettner/AFP, andorinha flagrada alimentando filhote em pleno voo.