Poemas : 

Perpétuo

 
Hoje é o fim.

O fim de tudo quanto conheço, de todas as coisas, de todos os seres, mesmo até de tudo o que nunca eu vi.

Vou desligar as luzes da minha consciência e fechar a persiana dos meus olhos, e cair até onde calhar. Vou dormir, e, quando eu adormeço, o mundo morre. Morres tu,
ela e ele,
eles,
nós,
sim,
eu também.

Se o mundo, no qual eu vivo, é a representação daquilo que os meus sentidos captam, é então plausível crer que quando adormeço, o mundo deixa de existir.

E é ridículo, mas igualmente plausível crer que todos os dias o mundo morre milhões de vezes seguidas nas suas múltiplas versões, e volta sempre a nascer, e a cada dia se apresenta alheio ao genocídio perpétuo e ao facto de eu ser o culpado.

Mas dormir é tão bom que todos os dias desperto sem qualquer remorso.

Paulo Coutinho

 
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super_prisma
 
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