Évora, 03 de Novembro de 2016
Meu Amor ...
Minha erva do Campo ...
Por Montes e vales, tão longe de mim, que te procuro, que te espero sem nunca te encontrar ... e porquê chorar?! De nada serve! Tu não voltas! Para mim, dormir, é mágico ... únicas horas em que não sinto, nem sofro, nem penso! Como se estivesse morto! Ausente de mim ... e, por isso, sem pensar em ti, que me ceifas o pensamento a cada hora, a cada instante!
Minha tortura, meu nó, minha corda, minha faca, meu punhal ... meu cálice de veneno e amargura! Meu bálsamo cansado, exausto de existir, de correr sangue, ir ao peito ...
O tempo vai passando, o destino vai-se cumprindo, a solidão vai-se entranhando. Na pele, nos ossos, a cada canto e recanto do meu corpo. Esperança já não tenho. Já não sonho nem desejo. Nada espero. Nada vejo. Sou um passo de silencio que avança pela vida como sendo noite escura. E já nada me espanta, já nada me espera, já não estou em falta com ninguém! Só há vazio e nada! Ái se a morte viesse de mansinho, me pegasse na mão e me levasse sem alardes nem bulício, queria ir só, tão sossegado e calmo como nunca consegui viver! Por não te ter! Só por não te ter!
Meu amor das noites fugidias, sem Passado nem Futuro, apenas tão presente por ausência! Porque mentem os teus olhos? Porque mente a tua boca? E até os gestos do teu corpo? Porque dizes, não te quero, se sinto que me amas e desejas?! ... É tão longa a minha dor! É tão funda a solidão! É tão alto o desespero! Não sei viver assim ... não posso, nem quero, nem tolero! Hei-de matar-me! Toma-o por certo, meu amor! E hás-de viver o resto dos teus dias com o peso da culpa de não me teres entendido nem escutado.
Não imaginas quanto sofro, quanto estou ainda preso ao que fomos e vivemos ... Talvez nunca o possamos arrancar nem destruir. Passe o tempo, passe a vida ou a morte ... venha a noite, venha o dia, venha a chuva, venha o Sol e até o nada ... Nada, nunca, poderá separar-nos. Nem eu, nem mesmo tu!
E, termino, meu amor, citando-te Almeida Garrett, sobre o Destino, em "Folhas Caídas":
"Quem disse à Estrela o caminho que ela há-de seguir no Céu? A fabricar seu ninho como é que a ave aprendeu? Quem diz à planta: floresce! E ao mudo verme, que tece sua mortalha de seda, os fios que lhos enreda? Ensinou alguém à abelha que no prado anda a zumbir se à flor branca ou vermelha o seu mel há-de pedir? Que eras tu, meu ser, teus olhos, minha vida, teu amor, todo o meu bem?! Ai! Não, não mo disse ninguém! E como a abelha que corre no prado, como no Céu gira a estrela, como a todo o ente, seu fado, por instinto se revela, eu, no teu seio divino, vim cumprir o meu destino ... vim, que só em ti eu sei viver e só por ti posso morrer ..."
Adeus!
Despeço-me assim do teu amor ...
O sempre só
Richard Mary Bay
Richard Mary Bay
"o Último Romântico"