Moça que não se bebe, me embriaga
Taça sem vinho, como dreno da alma
Planta sem destino brota do coração
Terra no cio, cria que nunca revela-se
Moça que pela manha veste pele triste
De alma cubista, de suas várias facetas
Coração maior onde mora menor a dor
E guarda o triste mosaico de sua vida
Moça que tecendo poesias nas escadas
Fazendo seus filhos em esquinas imundas
Bebe palavras nas bocas sujas oferecidas
Sonha e se abraça às pernas de seu marido
Moça medida certa das pegadas mineiras
Que nada em águas correntes quebradas
Moça nova veste calça velha arregaçada
E sorri por onde sangram veias e mentes
Moça que faz poesias como brincar com a alma
Se sente frio pega o sol com sua boca e beija
Se faz calor rasgam-se roupas e peles e nua
Corre ao encontro do vinho, do sol e da lua
José Veríssimo