Poemas : 

LONGINUS

 
LONGINUS
300 palavras


São Longuinho, desde quando menininho foi ficando esticadinho. Tal qual capim cresceu, sem tino, até virar um vara pau de furar o céu. Foi assim que sucedeu. Quando o viu, no céu, o deus, todo fino, magricela, olhos tristes olhando a memória do chão, por onde andavam seus irmãos, os homens e os outros santos. Outros deuses. Ó, Longuinho, seu tontinho, vou te dar a solução: Se não podes voltar ao solo, que subam pra cá, os irmãos. Peça a eles que pulem para mó de se prosear. Não vale reza, nem canto. O contrato é pular. Encurvou-se o São Longuinho com uma enorme corcunda - escoliótico dobramento - até o firmamento dos homens e pediu que pulassem. Pulem, meus irmãos, para que eu os veja. Não posso ser só, assim, longinho de todos. Longuinho pedia, mas nada de acordos. Uma alucinante dor nas costas, corcova de santo. Subiu de novo, levantando o pescoço engirafado até o buraco no céu de avestruz invertido, do deus de lá. Olhos tristes. Só vão pular se for em troca de algo. São assim, os irmãozinhos. Santo é pra barganhar. Depois disso que se deu - quem me falou jura que conhece deus e não mente - disse-me que o tal santo esticadinho, Longuinho da silva, passou a prometer encontrar coisas perdidas em troca de três pulinhos. E a jogada deu certo. Bom para os homens, bom para os santos. A parte de que era o próprio santo que escondia as coisas dos homens, não posso confirmar. Refutei dizendo que seria difícil descer para esconder e depois para encontrar as coisas perdidas, e que nessas alturas, são Longuinho já estaria definitivamente corcunda, bem perto da gente. Pulos seriam desnecessários. São só especulações. Hoje perdi meu centésimo isqueiro. São Longuinho tá bagista.

 
Autor
thiagodebarros
 
Texto
Data
Leituras
614
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.