Quando eu morrer,
Enterrem-me
No cemitério judeu,
Pois sempre fui pária,
Errante sem deus.
Enterrem-me
Onde não há cruzes,
Nenhum branco,
Só mármores negros,
Austeros e limpos,
Morada final dos ímpios.
Lá onde não há
De Deus,
Horror do infindo,
Qualquer sinal.
Apenas lápides, ínclitos
Que nunca encararam
Sinistras madonas
Do mal.
Desmundo, lugar
Para os que nunca
Nesse mundo
Tiveram lugar.
Plenitude tumular
Cujas simetrias e retas
Comunicam ideal
De vida e de lar.
Enterrem-me lá,
Longe das feras,
E talvez nem lá
Me queiram as lápides.
Eu que nunca fui
Cristão, judeu,
Apenas eu –
Meu próprio sal.