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Eu por mim mesmo II - Infancia

 
Capitulo II
Infância






Minha vida sempre foi complicada e difícil. Não conheci os meus pais. Fui criado por uma senhora que eu chamava Tia Marta. Dizia-me que era irmã de minha mãe morta em um acidente de trânsito quando eu tinha apenas cinco anos. Lembro-me que morávamos num lugarejo conhecido como Mojó na região rural, bem longe da cidade. Vivíamos numa cabana de palha e terra,que meus pais construíram a margem de um campo perto do mangue onde serpenteava um rio da água salgada. Não tínhamos vizinhos. Para sobreviver minha tia fazia carvão com pedaços de lenha que cortávamos no mangue e eu ia vender no carrinho improvisado no mercado que ficava duas horas de caminhada a pé.
Tia marta era viúva, seu marido morrera fulminado por um o raio num dia chuvoso, quando pescava na beira do rio. Não o conheci. Ela me contava com os olhos tristes e lacrimosos que nunca tivera um filho. Era muita feia, magra, quase , esquelética, sempre triste com um lenço encardido em volta do pescoço,os cabelos brancos desgrenhados, e o cachimbo de barro.no canto da boca desdentada. Muito frágil, qualquer esforço suava bastante e a deixava muito cansada e tossia muito. Para acalmar bebia a sua aguardente na sua caneca de alumínio.
Eu era pequeno e já trabalhava como um adulto. Dormia pouco as três da madrugada me levantava e seguia para a caeira um pouco afastada da cabana., começava a retirar o carvão sobre um calor tórrido e sufocante pela fumaça. Um trabalho muito perigoso. Com uma pá separava-o da terra, apesar das minhas precauções sempre me queimava. Terminava as seis horas, depois de ensacá-los,retornava para nossa humilde choupana para um simples desjejum de café ralo com pão duro que ajuntava no lixo da padaria. Com o rosto triste, o cachimbo gritava:
-“José va vender o carvão e depois cata alguma coisa na lixeira, quem sabe hoje tem mais sorte de encontrar umas verduras e legumes para nossa sopa”
- “ Sim, minha tia” – respondia meio-sonolento, com a cara de suja de fuligem e a boca chia de pão duro.
- “Vê que não se esquece de comprar a ossada, um litro da branquinha, uma caixa de fósforo e o fumo pra meu cachimbo.Um pouco de manteiga e linha e agulha para eu costurar esses andrajos. Ouviu?’ – Perguntava em voz alta com a colher de pau na mão e um olhar zangado.
Balançava cabeça. Terminava corria para a caiera e carregava os sacos no carro de mão e caminhava para o mercado .
Voltava no meio da tarde, super cansado com o carrinho carregado. Tia Marta me esperava s no terreiro, sentada num banquinho a sombra de uma frondosa mangueira, fumando e bebendo. Parava em frente a porta,descarregava os mantimentos coberta de moscas atraídas pelo forte fedor de podre. Entregava-lhe o dinheiro da venda do carvão que guardava no porta seio. Depois alimentar as galinhas e uns leitozinhos que criávamos a solta.. Então um pouco embriagada e falando só, levantava-se para preparar a sopa num caldeirão de ferro fundido sujo e preto de fumaça. Almoçávamos por volta das quatro horas da tarde. Minutos depois dirigíamos para o mangue cortar lenha na margem do rio para levarmos para preparar outra fornada de carvão. Terminada essa exaustiva tarefa era noite,os grilos,os sapos começavam a sua sinfonia,assim com os mosquitos zuniam nos nossos ouvidos. Acendíamos uma fogueira que iluminava todo o terreiro. Minha Tia bêbada me chamava para sentar no seu colo e me catava os piolhos. Mas tarde um friozinho, entravamos na nossa choça e deitávamos sobre um colchão de palha verde. Ela apagava a lamparina. Tudo escuro. Dormíamos pesadamente.



Extraido do livro "Le Cahier Rouge du Pére Joseph" - Edilivre,Paris - França
(www.edilivre.com)

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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Enviado por Tópico
Jmattos
Publicado: 14/10/2016 00:22  Atualizado: 14/10/2016 00:22
Usuário desde: 03/09/2012
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 Re: Eu por mim mesmo II - Infancia
Poeta
Que infância difícil hein?
Gostei da leitura, aguardando o próximo capítulo!
Beijos!
Janna