cristãos-novos enfrentam batalhas plásticas, fazendo de si mesmos seus próprios mercenários e alinhando-se nas trincheiras e na terceira pessoa. ordenando e coordenando ataques numa guerra, as faces reais permanecem impávidas na corte. em outro córner, um bufão de esgar sóbrio cria e atura de si mesmo um monólogo bifurcado, enfrentando o espelho, ansiando que este lhe dê uma visão diferente de sua própria. mais além, numa cadeira de espaldar alto, está o comendador, que chora de barriga cheia. por vezes, interrompe seu choro para observar uma mosca que busca em vão prolongar seus dias sobre um prato de comida macrobiótica.
então o comendador levanta sua mão.
de repente, todos param. para o choque entre espadins, cessam os gritos de guerra, as juras de morte, os desejos de sangue. dos dois lados, os guerreiros aguardam ordens. não se ouve mais o bufão. seus tiques dramáticos são substituídos por braços retos. sua sobriedade esvai-se numa cara de espanto. o mundo inteiro entra em colapso ao ver o comendador levantar a mão.
num átimo, sua mão cai sobre a mesa, causando um estrondo digno de malhetes. todos se rendem à solenidade daquele gesto e esperam. passa-se uma eternidade.
ao ver que todos o encaravam, o comendador ergue a voz, triunfante:
- matei!