Textos :
Além das nevoas Azuis VI - O bosque das Onças,o velho e o cão fosforescente
Capitulo VI
O BOSQUE DAS ONÇAS, O VELHO E O CÃO FOSFORESCENTE
Quando o carrilhão central da Torre começou a tocar, Seu Dico levou um tremendo susto com o barulho dos múltiplos sinos anunciando o inicio das horas mortas. Levantou-se repentinamente, suspendeu a calça abotoando-a em seguida e olhando desconfiado para os lados, para certificar-se que ninguém o vira. “D.Deus joga os pecadores reincidentes, principalmente aqueles que se masturbam” – pensou e meio sem-graça começou a andar devagar. Saiu do relvado na altura do temível Bosque das Onças, um lugarejo ermo e horripilante. Falavam-se das almas penadas que vagavam e gritavam para encontrem a saída, ouviam-se os esturros das esfomeadas onças. Um lugar evitado pela maioria dos viventes da segunda vida. O sol escondia-se para as bandas de Pagoas, um avermelhado inundava o céu e as aves exóticas voavam para os seus ninhos no santuário. Ele seguia a trilha que abeirava a capoeira, as folhas farfalhavam no vento doce, que açoitava-lhe o rosto seco e sem expressão. Urros e uma variada gama de ruídos e murmúrios vinham da escuridão impenetrável que circundava o bosque fechado. Receou de alguém tê-lo seguido e o dedurado a D. Deus, o Nosso Verdadeiro e com esses temíveis pensamentos a martela-lo apressou os passos sem rumo no meio da escuridão. Arbustos por todos os lados e cada vez mais... Percebeu no ar o cheiro de café torrado, alegrou-se ao visualizar no meio da campina que surgiu do nada uma tosca cabana de palha. Umas galinhas ciscavam ao redor e um ancião de cabelos longos, sentado num tronco caído alimentava a fogueira. Poderia aproximar-se e pedir uma orientação. Começou a caminhar na direção do velho e num átimo como um flash um enorme cão fosforescente interpôs na sua frente, latindo raivosamente deixando os caninos a mostra e o ameaçando avançar. O latido do cão tirou o velho de sua concentração. Se Dico nervoso com aquela súbita aparição repentina ficou sem saber o que fazer e estancou no meio da trilha como um jumento teimoso na beira de um trilho, para trás a escuridão intransponível do bosque e de suas visagens. Estava perdido.
- O que o senhor quer? – Interrogou=lhe uma vozinha vindo detrás de sua cabeça, sentiu o hálito quente de álcool e algo em seu ombro. A garganta secou e o cão desapareceu, deixando um rastro luminoso como uma calda de um cometa. Virou-se
devagar e olhou assustado para a direção da voz, então pode contemplar a imagem que vira sentado no tronco.
- Quem é o senhor? – Inquiriu nervosamente ajoelhando-se diante do esqueleitico ancião de longas madeixas que perdiam nas suas costas. Uma túnica encardida e fedorenta cobria-lhe o seu mirrado corpo.
O cão negro estava por trás do velho, sentado e altivo com as orelhas empinadas em sinal de alerta. Seu Dico tomado pela surpresa procurava palavras para preencher o vazio do entendimento e o Velho enigmático e seu valente e enorme cão desapareceram . Virando-se na direção da cabana, lá estava o mesmo sentado na porta chamando as galinhas, que entravam devagar como obedecessem a uma ordem unida. Um manto negro cobriu o céu e suas redondezas, o vento assoviando entres as arvores, trazendo o esturrp medonho das enormes onças e os lamentos selvagens dos descontentes que lutavam por uma sobrevida num ambiente hostil, onde nenhum ser conseguia escapar para contar estórias. Os vivos nunca voltaram. Os uivos dos lobos famintos, misturados ao canto fúnebre das corujas em harmonia com os corais de rãs e sapos, fazia Seu Dico tremer. A fogueira acesa, o Velho sentando no tronco fosforescente, o matreiro cão mudando constantemente de lugar, sempre na posição de ataque. De olho atento ao imóvel e cansado corpo de Seu Dico estirado sobre o capim, o Velho levantou-se agilmente e num piscar de olhos estava diante do pálido rosto de Seu Dico:
- Você tem febre – disse-lhe com uma das mãos na testa fria dele, o corpo estremeceu com o contacto daquela mão quente. Os olhos se entreabriram, tentou articular, mas nenhum som audível. A mente fervia de estranhas ilusões e visões assustadoras: Fessora Angélica de vestido decotado vermelho, sem calcinha, chamando-o, deitada glamurosamente na cama, numa posição tentadoramente sensual: “Vem meu nego gostoso” – ele se aproximando de costa, não visualizando o rosto dela, como nos filmes de terror B, a cabeça gira e inverte a posição e o rosto era dele, daquele nojento de barba rala.Na agonia mexeu a cabeça para os lados, o Velho franziu o cenho em sinal de preocupação e tentou entender o que o afligia. Professora Angélica nua de boi sobre o lençol de cetin vermelho a mesma face para trás e Seu Lairo a enrabando freneticamente, como os sinos tocando no mesmo ritmo do vai-e-vem. O rosto sorrindo em altas e maliciosas gargalhadas... O Velho flui e entra no sonho. Seu Dico espionando pelo buraco da fechadura, os dois quarto, riso e gemidos sussurrantes embevecida de múltiplos orgasmos. A mesma mão quente toca-lhe no ombro, vira a cabeça e depara com a face preocupada do estranho Velho atrás de si.: “Existe somente uma solução” – sussurrou a voz suave como um canto, Seu Dico expressou a ansiedade num olhar suplicante, o Velho meneou a cabeça e entendendo a angustia que infernizava aquela sofrível alma desnorteada. Olhou no fundo dos olhos dele e vaticinou: “A morte” – “Morte! De quem? – inquiriu assustado telepaticamente – “Morte! De quem?”
- Dele – apontou o velho com longo dedo no buraco da fechadura – Aquele que roubou a tua companheira – Olhou severamente – Somente a morte o livrará desse pesadelo e a libertará do jugo dele. Ele morrendo, ela volta para ti, ela volta para ti – e aquelas ultimas palavras martelaram pro alguns minutos na febril mente , antes de escurecer por completo.
Extraido do romance homonimo do Clube de Autores (www.clubedeautores.com)
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