CAMELÔ
A
Como um menino perseguindo a arraia,
O vendedor ambulante caça as oportunidades que lhe vertem
Sobre a sina de sáfaras.
A diferença é que a criança que persegue com alacridade a danada Da arraia,
Por viver no hotel paradise da fantasia,
Se esbalda em mar de brejeirice, picardia.
Enquanto que o bailarino da subvida usa por máscara a alegria
Para seduzir a clientela e, por sua vez, fugir da fome
Que o maltrata, o cerca, o esmaga, o calcina, o enterra, o castiga
E o carcome.
B
Gentileza, a alma do negócio,
Que, ao descortinar singelos horizontes,
Pavimenta a estrada da humana abóboda celeste
Para poder alçar um vôo mais alto, assassino de contínuas Intempéries.
C
O verbo, a lábia
São os projéteis usados para alvejar a empresa sonhada.
Embora puta velha,
A sedução jaz a servir como arma.
Sim, ainda que, á priori, quase sempre o gatilho empene,
No entanto, quando boa e fagueira, cravejem-lhes
O egoísmo e a avareza de mortíferas balas certeiras.
D
Oh, que lástima! O quão sua vida é malograda.
Presa de robocops sem alma,
Pesca, fisga, arremata
Quando o anzol desgostoso,
De forma esporádica,
Aproveita o vacilo da Violência Fardada
E o peixe sequiosamente agarra.
Ah, apesar da extorsão, dos dissabores, da tristeza, da putaria, da Porrada,
Ele, de ninja em ninja, de pau em pau,
Prossegue tenaz sua árdua andadura, sua difícil e dura jornada!
Jessé Barbosa de Oliveira