Donos da crise me entregam fatura Que pago com a frieza das minhas algibeiras, Se não pagar, aplicam a lei de cortes: Cortam no trabalho que não tenho; Na saúde que me debilita; Até na água que dá vida. No vazio mensal dos meus bolsos, Sou coagido a pagar Rádio que não tenho nem oiço, Limpeza das ruas que não sujo Televisão que não vejo Por não escapar a lei de cortes. Perplexo com a vida que levo, Procuro entender os homens Mas não me adapto aos ventos d’apatia, Até onde vão as privações aos pobres? As ruas estão repletas dos sem teto E como o número não bastasse, Angariam novos inquilinos pra o olho da rua Aplicando lei de cortes a quem nada tem. Até a própria pobreza paga imposto, Onde o pobre é coagido em todas as frentes Pra que o rico se torne cada vez mais rico. Do quê é feito o coração dos donos da crise?! Julgo ser de trapos ou talvez de notas de mil.