Sentia-me sem forças, gelada,
mas os meus passos eram leves.
Na mão direita tinha a luva
da mão esquerda, ao partir.
Eram realmente tantos degraus?
Eu sabia que eram só três!
O outono abraçava os plátanos
e murmurava:"Morre comigo!"
É o meu destino
que me enganasse e me traísse.
Eu respondi: "Oh, meu amor!
Eu também...Contigo morrerei..."
Este é o canto do último encontro.
Olhei para a casa escura,
Só no meu quarto, amarelo e indiferente,
ardia o fogo das velas.
Anna Akhmatova (1889-1966), poetisa ucraniana, natural de Odessa, reconhecida pelos clássicos da poesia nativa, ainda, nos anos 20, Akhmatova se submeteu ao silêncio, à censura e à perseguição na Rússia (tendo sido alvo de uma Resolução pessoal do Comitê Central do PCURSS, em 1946, não revogada durante sua vida), muitas de suas produções não foram publicadas não somente durante a vida da autora, como também no período de mais de duas décadas após sua morte.
Poesia traduzida por Manuel de Seabra, no livro "Poetas Russos".
Art by Nathan Altman, "Portrait of Anna Akhmatova", 1914