<br />Chega a esquecida
de ar taciturno, madrugadora,
por rota abandonada,
em um barco sem bússula, nem hora.
Ela a presunçosa,
pelo jasmim cheiroso e pela rosa.
Alma de marinheira.
Vôo de gaivota sobre o mar,
ela e a primavera,
com sua paisagem triste, com seu marasmo.
Viaja com o sentido,
chega com o rebanho e seu balido.
Chega com sua sina.
Náufragos de um oceano de tormentos,
barco sem rumo, sem destino,
rasga as vestes, fica desnuda,
corre atrás da fortuna,
com seus dentes de loba, a luz da lua.
De imperceptível passo
de algodão ou de nuvem,
a irmã deste ocaso
a desmedida angústia de meu desvelo,
pela trilha ignorada.
Com sua aureola de ouro, a desapiedada.
Neve sobre a colina.
Noite sobre a mão cativadora.
Ela sobre a rama
a sempre erguida, a abrasadora,
sombra da loucura,
corvo sedento da amargura.
Ela sobre minha angústia,
ela com a bandeira do meu destino.
Tênue violeta murcha ,
cálice que retiro de meu caminho.
Chega-se com a ausência,
e verte o veneno de sua inclemência.
Oh ! sua crueldade volátil,
nunca soube de pranto, nem despedida,
nem lágrima derramada
deteve a cortante profunda ferida.
Lembranças e saudades
impregnadas no íntimo das idades.
Corta a veia heroica,
e no fragor das batalhas
quebra serena a calma.
Ela libertadora das muralhas,
gira sobre os mares
entre naufrágios, entre mortais .
Rui Garcia