A Primavera do passado de todos nós.
Não é um subtítulo, embora soe como um, é a melancolia do passado que beira a eternidade das palavras na escrita reluzente da tela do computador.
Sentada na escrivaninha de meu quarto daqui de Alfama e em silêncio, quebrado apenas pelo som da melodia escolhida por mim, somente para relaxar, escrevo.
Ás vezes quebro o exercício constante de digitação para cantarolar uma estrofe, mas logo desisto, pois convenço-me, que para escrever tenho que me concentrar.
O Fado na minha vida tem a sua hora e só canto quando quero e quando a minha alma pede. Sou assim, sempre fui e serei, por isso a Artista perdeu-se no tempo.
Quando eu era pequena, bem pequena mesmo, pensava na Primavera como uma poesia. As flores nascendo, num ritmo constante, lento, como numa sinfonia sincronizada, o colorido da flora surge encantando.
Os pássaros canores faziam o seu ninho, e tudo parecia ser mágico como num conto de fadas. Como em um conto de fadas sonhava em encontrar o meu príncipe e casar-me com ele na chegada da Primavera, num campo de flores tudo muito verde e com o sol brilhando no firmamento.
Mas hoje, a chegada da Primavera não me anima, para ser realista não faz a menor importância, perdeu-se o encantamento.
As flores nascendo no campo - são crianças abandonadas nas ruas ou sofrendo de fome, agonizando no peito murcho da mãe à procura de alimento.
O colorido da flora que brindava os meus olhos, contrasta com o cinza exprimido das cidades, a fumaça dos carros, caminhões, autocarros, mendigos que perambulam pelas calçadas, pela cidade, diabulam pelas ruas de suas vidas, sem expectativas, sem futuro, vivendo somente para o agora.
Os pássaros que faziam os seus ninhos, são como Sem Terras, Sem Tetos, Sem Esperanças, que constróem as suas casas com o que podem achar pelo caminho, assim como os pássaros que em migalhas edificam o seu ninho. Mas, nesse caso, sem nenhuma poesia.
O conto de fadas passou a pesadelo de uma menina crescida.
O príncipe já não existe mais, talvez tenha morrido num desses transes com a realidade.
Mas de qualquer forma, a Primavera o nascer de todas as estações do ano virá.
Recebê-la de forma injúria ou ignorando-a , não estará melhorando a realidade, ainda temos que sonhar, viver o pouco do que nos restou de belo e puro no mundo.
E.L.
2008/5/08
E.L.