(Oiça o poema recitado pelo próprio autor, tendo como música de fundo a canção “Lisboa à Noite” interpretada por Tony de Matos. Lisboa… essa mesma Lisboa que, consternada, se curvou perante a notícia da morte de Bocage no dia 21 de Dezembro de 1805 e que assistiu, comovida, ao seu funeral no dia seguinte, num domingo chuvoso e frio… o incontestável Vate, o grande Elmano Sadino partia, agora, fisicamente, para sempre… (por ironia do destino, Bocage, que gostava de se divertir, de “viver” a vida, faleceu e foi sepultado num fim-de-semana e, por estranha casualidade, ou por qualquer insólito capricho do destino, nasceu num domingo e foi sepultado igualmente num domingo…)… e Lisboa “descontrolou-se” de dor e mágoa pela partida do seu querido poeta e amigo das horas amargas… “mil velas se acenderam” nos altares das colinas… guitarras "emudeceram”… e Lisboa não parou a noite inteira… andou de lado em lado… foi à sardinha assada lá na feira… (nessa mesma feira onde Bocage terá certamente ido tantas vezes…) Lisboa ouviu cantar o fado… no céu a lua cheia refulgia...(essa mesma lua que, certamente, inspirou a Bocage alguns dos seus mais belos poemas), ouviu cantar o fado e sonhou que era a saudade aquela voz que ouvia... (já era a saudade do grandioso Vate... do imortal Elmano...) e chorou, desconsolada e incrédula, a partida do seu grande filho… de um dos filhos mais diletos do povo português… de um dos seus ícones mais marcantes. E Lisboa só “adormeceu” de madrugada… e os poemas do grande Vate já estavam no ar...)
(Ao grande poeta português do século XVIII, Manuel Maria Barbosa du Bocage, por ocasião de mais um 15 de Setembro, aniversário do seu nascimento)
BOCAGE
Desde que partiste para a tua eternidade, Não cessas de vibrar os corações, Dos que se queimam no fogo das paixões, Que incendiaram a tua mocidade;
Teu breve desenlace em curta idade, Ao sabor de desventuras e prisões, Tem arrebatado as gerações, Que choram a cruel fatalidade;
Ah, Bocage! Se soubesses como és grande, E como a cada dia se expande, A tua celebridade;
Se soubesses como em cada astro, Ressurges triunfante e sem cadastro, Envolto em imortalidade!
-- Gostaria de pedir aos proprietários do famoso "Café Nicola", em Lisboa, (local onde Bocage passou alguns dos momentos mais agradáveis da sua curta vida e onde a sua capacidade de improviso e a sua espontaneidade insuperável se revelaram grandiosas), que considerassem colocar este meu soneto junto à estátua de Bocage que se encontra nesse famoso estabelecimento. Tal constituiria uma honra para mim. --
(Veja uma breve explicação do poema em baixo)
REFERÊNCIAS MARCANTES A BOCAGE
Bocage continua vivo entre nós; e o seu sonho de imortalidade realiza-se, afinal, na emoção com que escutamos ainda a sua voz ardente. ESTHER DE LEMOS - Ficcionista e ensaísta portuguesa -
“O estro de Bocage não era só luz, era chama. A sua vida foi um incêndio.” PINHEIRO CHAGAS - Escritor e político português -
“A literatura portuguesa perdeu um dos seus poetas mais lídimos e uma personalidade plural, que, para muitas gerações, incarnou o símbolo da irreverência, da frontalidade, da luta contra o despotismo e de um humanismo integral e paradigmático.” LÍGIA LAGINHA (No seu Blogue “Almas Trocadas”)
"Bocage viveu fora da sua época; se no século XVIII a sua vida foi um incêndio, no século XX seria um gigantesco turbilhão incandescente." HelderOliveira (Autor do soneto)
BREVE EXPLICAÇÃO DO POEMA
Relativamente ao poema que vos é apresentado, apenas algumas explicações para tornar mais compreensível a sua leitura:
o autor ao escrever no 3º verso “Dos que se queimam no fogo das paixões” refere-se “aos que lêem os poemas de Bocage, especialmente os seus poemas de amor”.
E quando, no 4º verso o autor diz “Que incendiaram a tua mocidade” quer dizer “ poemas esses que foram escritos quando o poeta era ainda jovem e que foram dedicados a jovens beldades por quem ele se apaixonava e por quem sentia, por vezes, paixões ardentes.”
No primeiro verso da 2ª quadra, o autor escreve: “Teu breve desenlace em curta idade… (isto significa, “a tua morte prematura…”)
No último terceto, o autor refere-se à imortalidade do poeta e diz que, “o poeta nunca será esquecido pois ressurgirá nos astros e será recordado como um grande poeta, um poeta de elevada craveira, um poeta de grandes dotes intelectuais! Um poeta que nunca morrerá!
Como disse ele mesmo, «Eis, no marco fatal, meu fim terreno! / Mas surgirei nos astros / Para nunca morrer! / Com riso impune, / Lá, zombarei da sorte».
-- Helder Oliveira -- (Helder de Jesus Ferreira de Oliveira)
Olá Helder Que lindo ficou o teu soneto Bocage! Tu o enriqueceste , com a tua própria voz a declamá-lo! Ficou mesmo perfeito, unir o escrito, ao falado.Adorei! Parabéns pelo resultado final! Beijinho meu. Angeline
Oi Angeline, espero que estejas a passar um dia agradável. Estou bem satisfeito por teres lido o "Bocage" e sobretudo por teres gostado. Obrigado pelas palavras elogiosas e pelos parabéns.
O Bocage é, com efeito, uma figura inesquecível. Vou te contar uma passagem da vida dele, bastante caricata. Conta-se que um comerciante, em Lisboa, pediu-lhe, numa ocasião, que ele fizesse uns versos para a filha para uma ocasião especial. O Bocage fez os versos pedidos e os mesmos ficaram tão bonitos, agradaram tanto ao comerciante, que este ofereceu ao Bocage uma fazenda própria para fato e, por sinal, uma das fazendas mais caras na altura. O Bocage agradeceu e levou a fazenda para casa. Num determinado dia em que estava a fazer muito frio, o Bocage embrulhou-se na fazenda que o comerciante lhe havia dado e foi ter com ele. Quando o comerciante o viu com a fazenda embrulhada no corpo perguntou-lhe, muito admirado:
--Então, Bocage, não mandaste fazer o fato?!
Ao que o Bocage lhe respondeu: -- Náo, ainda estou a ver onde é que a moda pára.
(Angelina, não sei se compreendeste o sentido da resposta do Bocage. Quer dizer, como o Bocage não tinha a intenção de mandar fazer o fato, porque talvez não tinha dinheiro para isso, então como a moda nunca pára, quer dizer que ele estaria sempre à espera da última moda para então mandar fazer o fato que, entretanto, também nunca seria feito, porque a última moda nunca chegaria.)
Enfim, são estas e outras (sem falar dos seus poemas maravilhosos, quase inigualáveis) que tornam a figura de Bocage tão carismática e cada vez mais carismática ainda hoje, 211 anos depois do seu desaparecimento físico.
Que interessante a passagem da vida deste autor, que confesso, pouco sabia dele, além das famosas anedotas do Bocage. Mas enfim, à medida que lia, julguei mesmo, que este seria o desfecho. Que ele não teria como mandar fazer um fato. Obrigada por partilhar comigo. Beijinhos meu. Angeline
Yá Angeline, para além das anedotas, aconselho-te a ler alguns dos seus sonetos. Tenho a certeza que vais gostar. Alguns não são tão simples de se entender mas há uns que se percebem perfeitamente. Estou a pensar, por exemplo, num cujo título é "O suspiro" e noutro também muito bonito que ele dedicou a uma das suas apaixonadas intitulado "À Memória de Anarda". Penso que qualquer deles é bastante acessível. E são bonitos. E já agora, por falar em anedotas, vou-te contar uma.
Uma vez o Bocage foi passar férias à Espanha. Quando regressou, uma Senhora, sua vizinha, perguntou-lhe:
-- Então Sr. Bocage, como correram as férias? -- Foram maravilhosas -- respondeu o Bocage. -- E o que é que mais o impressionou por lá, Sr. Bocage? - Perguntou ainda a Senhora, -- Oh, minha Senhora, nunca tinha visto tanta gente junta a falar espanhol.
Yá Angeline, até uma próxima. Quando me lembrar de mais uma anedota bonita do Bocage, vou-te contar. Helder
Sim Angeline, vejo que estás com vontade de dar umas boas risadas com umas boas anedotas. Rir faz bem. Ajuda a descontrair, a relaxar. Há um ditado que diz: "O riso é contagioso e ajuda a triunfar na vida". E é verdade. Olha Angeline, para te enviar mais umas anedotas vai ter de ser por e-mail. Vou ver o endereço do teu e-mail no teu perfil.
Desejo-te continuação de um dia agradável e um bom fim-de-semana que já se aproxima. Helder