Por uma porta entreaberta, o Convidado via, na penumbra, um piso liso e escorregadio, ouvindo um sussurro como de passos sendo, cadencialmente, amortecidos. Sem sair da sala, chegou até a porta de um pequeno quarto, de onde originava os abrandados sons, ouvindo um pequeno e leve bater no portal interno da porta e, em seguida, ocorreu um silêncio sepulcral. De imediato, arrastando o seu chinelo pela sala, fechou a porta, lacrando-a por fora.
Do quarto, agora com a porta fechada, passou a ouvir sons inarticulados, fazendo-o entender como uma espécie de chamamento intercalado de muitos espirros abafados e seqüentes, todavia, tudo em sussurros sem alaridos e com movimentos apenas imaginados pelo convidado. Com receio, fechou as venezianas da sala e, com olhares hesitantes e temerosos, ofegando pela sala, de costas... Recuou!
Em seguida, passou a ouvir um diálogo ciciante e incompreensível, mesclado de espirros, para, em seguida, ouvir passos em direção da porta, que fora apenas encostada nos seus batentes.
O convidado citadino que, por isso, sempre vivia em clausura, dado as ameaças e perseguições dos devassos dos grandes centros populacionais, se apavorou naquele apartamento, onde estava em visita a um amigo, que se ausentara, momentaneamente, para comprar cervejas para ambos. Sabia que teria que tomar uma atitude contra o invasor dentro do quarto e, assim, se armando de um facão, encontrado num dos móveis da sala, se dirigiu para a porta referida. Rodou a maçaneta lentamente e com o facão em riste e, novo vislumbre do quarto, destarte, lentamente no abrir da porta pausadamente.
Abriu a porta bruscamente, ultrapassando-a com o seu abdômen e o facão direcionado para o interior daquele quarto...
Ouviu um rosnado amigável de um gatinho que, pacatamente, lhe negaceava a abanar o rabo, como se o convidasse para entrar!
A visita inesperada e tão temida era a de um simples e, inofensivel... Gatinho!
A seguir, uma poesia minha ( inédita) relativa ao texto supra:
A VISITA!
Porta entreaberta,
Vislumbre do piso,
Sons fugidios...
Passos amortecidos!
Soar no batente,
Silêncio!
Arrastar de chinelas:
Lacrar de portas!
Reiterar do chamamento,
Alaridos!
Movimentos, sussurros!
Venezianas se movendo...
Olhar hesitante,
Temeroso!
Ofegar abafado...
Recuo!
Diálogo lento,
Ciciante!
Passos para a porta...
Moderados!
O homem citadino,
Enclausurado!
No luxuoso apartamento...
Apavorado!
Rodar da maçaneta,
Lentamente!
Novo vislumbre...
Pausadamente!
Devassar da sala,
Bruscamente!
Abdome truculento...
Emergindo!
Ligeiro ronronar,
Pacatamente!
Um bichano no umbral...
Negaciante!
Sebastião Antônio Baracho.
conanbaracho@uol.com.br
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