Vivo sozinho no meu castelo de pedra
As pessoas dizem que sou um monstro, uma fera
Querem me ferir, me machucar, me torturar
Apenas minha aparência eles devem notar, e criticar
Todos eles dizem e apontam o meu defeito
O dono do indicador que me julga então deve ser perfeito
Para viver junto a eles, "não tenho jeito"
Não sei o que isso quer dizer
Já que sou como eles, devem ver
Mas por serem tão abomináveis, opto por me esconder
Isolar-me na construção que me fornece proteção
E dentro dela sonhar com uma paixão
Que aquela rosa dentro da cúpula de vidro seja retirada
E que eu a entregue para minha tão sonhada amada
Não quero mais sofrer pela indiferença, por ser assim
Sem uma saída, o único lugar que me sinto tranquilo é meu jardim
Ele é um jardim sem vida, como a minha, de neve revestida
Os únicos que tenho algum contato são os meus empregados
Digo logo que, por mim eles são maltratados e ignorados
Minha fúria está transbordando para todos os lados
A minha humanidade a cada segundo é diminuída
Logo ela será totalmente esquecida
O que posso fazer para sair dessa vida sofrida?
Um caminho para a saída alguém me indica?
Buscando por tantos anos um alguém para me amar
E sonhando com uma pessoa que irá me aceitar
Livrar-me das correntes e comigo festejar, e de "fera" não me chamar
A minha esperança logo, logo irá se acabar.
Mas tudo mudou durante a nevasca
Avistei uma jovem, talvez não encontrou a sua casa
Uma matilha agressiva e faminta, a cercava
Ela de longe me encantou, e meu consciente me falou
"Salve-a daquele terror, deve estar sentindo grande pavor"
Mesmo não me pedindo para salvá-la
Eu corri para resgatá-la daquele conjunto de garras
Depois, levei-a para a minha morada
Pelos empregados ela fora aquecida e bem cuidada
Decidi ficar fora de vista para não assustá-la
Pois, assim como todas as outras pessoas, ela ficaria horrorizada
Pela forma animal que , em mim, encarnava
Mas a sua delicadeza, firmeza e beleza me espantava
"Devo protegê-la custe o que custar", eu pensava
Era diferente a forma, maneira como ela me olhava
Algo então começou a acontecer sem eu perceber
Junto da companhia dela, algo estava começando a nascer
A Fera que todos criticavam, temiam e evitavam, estava amando?
O jardim sem vida agora estava mudando, gerando flores
Minha visão já não era mais incolor, passei a ver cores
Das comidas passei a sentir os sabores
Tudo por causa daquela desconhecida jovem moça
Ao lado daquela rosa aprisionada quero que me ouça.
"Você me resgatou da vida de solidão
Aqueceu o meu gélido coração
O seu carinho e bondade me trouxeram a felicidade
Pelo charme de sua simplicidade e alegria
Me libertou das algemas que me prendia
Quer ser minha?"