Sou inquilino do seu peito e de seus passos
Não me preocupo com os solavancos da vida
Tenho um coração intrometido e sem medo de amar
Rimo sala com palha e durmo na longa noite
E há um tempo invalidando a vida da gente
São dias que metalizam a nossa sorte
E há um grisalho insipiente dominando minha cabeça
Como estradas que grifam nossos destinos
Como dias grávidos do sol, parindo a lua
Como a estupidez da faca que fere o sal do corpo
Sentimentos desapegados soltos evaporam no ar
Nesse desatino abraço sua ausência – que chatice!
Romântico rodopiando ruas nuas, luas nossas
Calores indeléveis que adormecem na minha alma
Remontam em minha estrada o rebrilhar dos seus olhos
São vincos, rugas onde moram meus dias
Que chamam de velhice – que chatice!
Vindimo em sua boca a doçura do tempo
Vozes soltas das videiras videntes cativas
Que dormem comigo na estrada traçada da gente
Nesse tempo esquecido numa rua de sentido duplo
Tempo lerdo, que ainda ronca dentro das minhas veias
Numa dublagem perfeita me transforma em dois:
Um querendo seguir, seguir seus passos;
Outro fugindo de mim, sumindo de mim!
José Veríssimo