Poemas : 

Et caetera

 
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Até o cego
Conhece-me de longe
Pelo cheiro a olhar molhado
Pelos sons do coração roto
Deixando cair os gritos de outono
E os sonhos castrados de inverno

Até o surdo me conhece de perto,
Quando chego soluçando o nublado dos olhos


E tu a aqui ao lado
Só me conheces
Se tocar no teu rosto
Com os lábios
E disser meu nome
Soletrado
De coração aberto




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Autor
kikofalcão
 
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Enviado por Tópico
Margô_T
Publicado: 31/08/2016 20:03  Atualizado: 31/08/2016 20:03
Da casa!
Usuário desde: 27/06/2016
Localidade: Lisboa
Mensagens: 308
 Re: Et caetera
Bem interessante este teu poema (uma primeira publicação no site que te coloca já num patamar bem elevado).
Nele vejo duas interpretações possíveis consoante a abordagem (mais ou menos negativa) com que se lê a última estrofe. Como me agrada mais a abordagem de encontro do que de desencontro, vou optar por essa.

O cego conhece-te “de longe” “pelo cheiro a olhar molhado” (pelo olhar comovido que – não sendo visto – se pressente), bem como “pelos sons do coração roto” (que deixa cair, pelas suas aberturas, os “gritos de outono” e os “sonhos castrados de inverno” – ambas estações de olhos molhados como o próprio sujeito poético).
O surdo conhece-te “de perto” (interessante o “longe” e o “perto” nestas duas estrofes, jogando com proximidade e distância) pelos soluços e o “nublado dos olhos” (soluços esses que não se ouvem, mas se pressentem no olhar nublado).

Saindo das duas primeiras estrofes chega-se a um “tu” que “aqui ao lado” (ainda mais perto que o “de perto” da estrofe anterior) conhece-te pelo “tocar” no “rosto” “com os lábios” enquanto proclamas o teu nome, de um modo “soletrado/de coração aberto”.
E por que razão este “tu” só conhece o sujeito poético quando esta combinação ocorre, enquanto um cego e um surdo o pressentem à distância? Talvez porque, ao lado do “tu”, o sujeito poético não tenha razões para andar de “olhar molhado” “soluçando o nublado dos olhos”, não dando por isso outra face a conhecer…. já que, não se sentindo “de coração roto”, o sujeito poético está de “coração aberto”, sendo os seus gestos um reflexo dessa emoção.


PS: No verso "Quanto chego soluçando o nublado dos olhos" não era "Quando" em vez de "Quanto"?


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 31/08/2016 20:27  Atualizado: 31/08/2016 20:27
 Re: Et caetera
Muito belo o teu texto.

Poetas como tu, engrandecem o site.

Parabéns!

Um abraço,

Anggela


Enviado por Tópico
Jmattos
Publicado: 03/09/2016 01:47  Atualizado: 03/09/2016 01:47
Usuário desde: 03/09/2012
Localidade:
Mensagens: 18165
 Re: Et caetera
Parabéns Poeta
Muito bom! Gostei!
Beijos!
Janna

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 04/09/2016 10:56  Atualizado: 04/09/2016 10:56
 Re: Et caetera
Seja bem vindo ao Luso, eu mesmo apareço por cá apenas nos fins de semana...

Lindo esse poema, gostei da escrita!