Sinto a vida passando por mim, meu tempo se esvaindo,
entenebrecendo a cada vez mais o que tinha de encantos;
restando em mim, de tudo, a obstinação por ti, o fervor infindo,
a sensação da existência desperdiçada com estéreis acalantos.
Em sombras e segredos é que alforrio débeis imprecações,
palavras em névoa, em fumo incinerado ardor se transforma.
Como o partir do trem noturno sobrevoam-me caras as recordações,
imaginando que teus sentimentos ficaram a dormir na plataforma.
Porque eu sei que minhas palavras estarão dispersas no ar,
insustentáveis, com menos peso que a fumaça do teu cigarro,
trazendo-me a angústia, tolhendo os pensamentos sem alforriar
os segredos que permanecerão nas sombras em que me esbarro.