Imperfeito Resort
Voltamos da praia, mais de quarenta graus,
leve brisa muito quente,
como é dificil respirar!
Caminhamos um atrás do outro,
por forma a não sairmos da curta sombra
colada ao muro do resort.
Nosso bungalow está situado ao fundo da rua principal
que se estende em linha reta e atravessa toda a estância,
debroada a moringas, gardénias e buganvílias, cujo aroma
e composição colorida nos trazem à lembrança
os portais do paraiso, pelo menos como nos foi apresentado.
Entramos no bungalow, ar condicionado no máximo,
trabalhando em esforço e dizendo-nos pelos
estalidos metálicos algo incomodativos das ventoinhas,
que já teve melhores dias.
A janela grande, em vidro de cor azulada que ainda
não percebi se é a sua própria cor ou o reflexo do céu,
assemelha-se a um quadro de natureza viva,
pontuado pelo verde das pupunhas e mungubas
e onde sobressai, como uma pincelada de Van Gogh,
a cor clara e brilhante de um grande ipê-amarelo
que pelo seu porte majestoso, se anuncia quase centenário.
Do campo de palmeiras que se estende até à praia
chega-nos o chilreado estridente dos tangarás, sabiás
e pintassilgos da Venezuela que,
a julgar pelo agrado colocado no canto,
não lamentam a considerável canícula
e celebram-na até de forma entusiasta.
Agarro-te pela cintura, meus lábios procuram os teus,
beijo-te as faces salgadas que imagino da salmoura
mas apercebo-me depois que é das lágrimas grossas
que te rolam pela cara, que eu vejo mas, estranhamente,
não me preocupam, nem sequer te questiono!
Beijamo-nos excitados, o fresco contraste com
a temperatura exterior deixa-nos em pele de galinha,
todos os pelos eriçados, hipersensíveis.
Estamos enamorados, nada mais pensamos
do que no entrelaçar dos nossos corpos cansados.
Ao longe começo a ouvir um som que me é familiar,
um som digital,
parece o meu despertador!
Quem me dera ter adormecido mais cedo,
talvez conseguisse terminar o sonho,
talvez nos amássemos no chão, na banheira, na cama...
Ruinav