ABRIL ANDALUZ
A felicidade -- um lago onde sem outro intento
Crianças remando barcos -- Natureza morta,
Que, sensível à luz que claras águas corta,
Um artista pintou sonhando ter talento.
Pontilhava entretons a captar o momento,
Cuja contemplação ideou à mente absorta:
Se houve barcos no lago -- ou lago -- pouco importa...
Tudo é tão belo e vão quanto esse pensamento.
A paisagem ideal dos instantes felizes,
Que, por tão fugaz, pode até não ter havido
Ou houve como motivo a se pintar matizes.
Mais o pintor que a fez buscando apenas luzes
Face à felicidade alheia e contra o olvido,
Em meus olhos estão como abris andaluzes!...
Belo Horizonte - 20 11 1996
Ubi caritas est vera
Deus ibi est.