Aproximação
Aos poucos vou-me chegando a ti,
faço-o devagar, de forma quase impercetível,
espreitando no entanto pelo canto do olho,
para ter certeza de que te apercebes do meu movimento
e analiso freneticamente a tua reação.
Meu coração bate acelerado, ritmo inconstante,
que me provoca até alguma dificuldade
em fazer chegar aos pulmões arfantes,
o ar bendito que inspiro,
perfumado por uma fragrância leve e fresca
que se solta dos teus cabelos
e que controla, comanda, bloqueia
todos os meus sentidos e me deixa num estado
hipnótico, deslumbrado, de puro transe.
Volto a espreitar pelo canto do olho e sinto-me invadido
por uma angústia pesada e compacta,
continuamos à mesma distância,
cada um na sua ponta do banco,
embora se mantenha a falsa sensação
de que me vou chegando a ti aos poucos,
de forma insinuosa e marota.
Mas não, continuamos afastados, todos os meus músculos
se queixam já do tremendo esforço
mas o olhar confirma.
Estou exausto, sinto que não vou chegar a ti
e é num ato impregnado de desespero que te proponho:
Vá lá meu bem, vamos encontrar-nos a meio caminho...
Ruinav