Mote:" Saudades" - Florbela Espanca
NOSTALGIA FRIA
Saudades não. São em vão
Foste brisa na proa no intenso Verão
e luar límpido no convés d’ Inverno
e vendaval agora que aderno
Esquecer-te? Sim, por obrigação
já que o tempo deu-me razão
foste o melhor néctar d’amor
e a broa na mesa com bolor
Digo-te adeus meu amor,
Que parto com a certeza
De ter chegado a hora
farei como faço à esplendorosa flor
que na jarra perdeu a beleza
e triste, conformado, deito-a fora!
Manu
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agora o poema
SAUDADES - Florbela Espanca-
Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?...
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"
Não sou poeta mas, quem sabe, um dia escreverei
um texto que (pela persistência e sorte) possa ser lido como poema