... Num dia quente dia de verão,
Maria ficou grávida de um poeta...
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- O poeta e o rebento de Maria -
Num dia quente dia de verão,
Maria ficou grávida de um poeta,
jamais revelou o nome do mandrião,
fora só um caso banal, uma treta.
Atravessou a gestação sem dificuldade,
conciliando o trabalho no escritório,
nem mesmo abandonou a faculdade,
nem lhe passou pela cabeça um casório.
Se houvesse um mal, casar seria o maior,
pensava assim com placidez espiritual,
um passo de cada vez, devagar com o andor,
as dificuldades venceria e coisa e tal.
O poeta a viu outra vez ainda no hospital,
onde foi tratado como água residual.
Maria sequer registrou o pimpolho neonatal,
em ser ele filho de mãe solteira não viu mal.
Deu o seio para alimentar o rebento,
pensando logo na essência nutricional,
para que fosse bem robusto e com alento,
à creche do jardim de infância municipal.
Lá o pimpolho passava dia mal comportado,
beliscava as meninas, puxava as tranças,
divertia-se num play-statiom importado,
passou por todos os folguedos de crianças
Se ficava doente a enfermeira do posto,
media a febre e ameaçava com uma injeção,
apesar dos percalços cresceu forte e a gosto,
terminou a faculdade e fez pós-graduação.
Apesar da insistência do poeta e dos vizinhos ,
jamais revelou, nem ao filho a quem-se-sai.
Dizia-lhes que as gatas parem tantos gatinhos,
jamais um deles quis saber quem seria o pai.
Até que enfim o poeta desistiu do intento,
contentando-se em ser chamado de tio,
vez em quando comia um hambúrguer com o rebento
olhava-o de longe com algum orgulho tardio.
Uma noite o poeta morreu esfaqueado numa esquina,
depois de uma briga com um amigo de bar,
Maria chorou uma furtiva lágrima pequenina,
mais que aquela ninguém a viu derramar.
Numa carruagem tirada por seis Pégasus alados
a alma do poeta ascendeu talvez rumo ao céu,
Maria trêmula viu o rebento de olhos marejados,
escrever um verso furtivo num pedaço de papel.
08082016
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