Poemas : 

Realidade desnuda

 

Era bonita, esbelta e tinha o corpo escultural,
mas assoava o nariz fungando pelas manhãs,
depois do primeiro cigarro com ar sensual,
gritava como querendo acordar as irmãs.

Lânguida ainda deixava-se ir até a cozinha,
espantava o cachorro que lá dormia no chão,
retirava do fundo da pia as carcaças do galeto,
suspirava ainda saudosa por meio amareto.

Lembrava dos comerciais que fez para a TV,
com mais de trinta ainda chamava a atenção,
mulher mais que interessante pós-balzaquiana
orgulhava-se dos seios no decote em vê.

Apesar de suscitar no outros uma fantasia,
sequer encontrava vestígios em torno de si,
vivia alternando as várias crises de anorexia,
e animados regabofes em nuvens de Givenchy.

Vez em quando sussurrava quase inaudível,
querer mesmo tomar um banho erótico a dois,
sentir alguém espalhando o xampu nos cabelos,
vendo-se nua no espelho embaçado depois.

Queria beijos entre as espumas perfumadas,
debaixo da água sentir-se intensa e queimada,
tal fogueira que brotasse do chão molhado,
a água quente dançando no corpo fartado.

Depois de fechada a torneira e cessado o jato,
ajeitava os cabelos com uma toalha felpuda,
sentava-se na cama a desfrutar do próprio tato,
antes de abrir os olhos à realidade desnuda.

 
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Zambrito
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 07/08/2016 07:33  Atualizado: 07/08/2016 13:06
Usuário desde: 06/11/2007
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 Re: Realidade desnuda
Reparo: na quarta estrofe lê-se espalhado quando creio a intenção ser o gerûndio - espalhando.

Muito descritivo. Rima fluida, geralmente uniforme e pouco forçada.
Gosto da maneira como exploraste a solidão das mulheres belas aos 30. Dos desejos que sentem. Duma certa esperança ainda residente.

O poema está cheio de quadras bem conseguidas.
Muito bom, digo eu.

Abraço