ERA UMA CASA MUITO ENGRAÇADA
À Cidade de Mariana
Cadê o lugarejo que tava aqui?
A barragem rompeu
E levou tudo...
Casas
Gente
Animais
Carros
Lavoura...
O rio veio da serra
Sem aviso
Rápido
Desceu
Revirou
Veloz
O rio calmo
E a terra arada
Derrubou casas
Matou
E desabrigou toda essa gente
Que virou
Num segundo
Indigente...
Foi coisa indecente
Coisa de empresa maldita
Fazer o rio virar lama
Destruir sonhos...
O rio
Que corria tranquilo
Trouxe o veneno
Que exterminou peixes
Espantou aves...
O rio
Que corria em paz
Agora lento
Tá mudo
Suas águas correntes
Cantantes
Calou sua voz...
O rio
Antes
Era doce
Morreu
De morte matada...
Restou pouco prá se viver...
Roças destroçadas
Vidas desfeitas
Sonhos mortos...
Uma boneca
Como se tivesse o rosto marcado pela dor
Roupa esfarrapada
Jaz no que restou de uma cama
No canto do quarto
Que virou escombros de uma casa
Muito engraçada
Sem teto
Sem chão
Sem porta
Sem janela
Sem vida...
Só uma simples aquarela
Na parede
Prestas a desabar...
Era uma casa sem mais nada
Sem família
Que foi desgraçada
Pela ganância
Pelo lucro
A qualquer custo...
Quanto custava a vida
Que o rio levou?...
Cadê o rio que havia aqui?...
Quando da tragédia de Mariana - MG, fiz duas poesias: Mariana e Era uma casa muito engraçada, falando da minha indignação com a tragédia em face do lucro que as empresas obtém, sem olhar as vidas que estão destruidas pela sua ganância. Esta é a segunda poesia.
Depois publicarei a primeira.