esqueço das várias que fui aos poucos
o devir vem brutalmente
sem nitidez
rasgando os espectros entorpecentes
das possibilidades
do infinito
sinto meu corpo desvanecer e reintegrar-se
e lembro que
o espaço
é só uma questão de tempo
um detalhe...
minha mente existe
já imaginei que pudesse brincar com os anjos
e tocar a placidez dos planetas
com um sorriso
e trazer a luz de um metal precioso
nos gametas
e declamar um poema incandescente
com um só beijo...
como um tapa na cara
da morte
e nos relógios atômicos que desenham as linhas
de nossa humana
imperfeição
houve um tempo que
acreditei na indecência
do céu e das estrelas...
com tantas constelações
não poderia haver tanta
solidão e violência
desvencilhei-me de amarras
e armadilhas
escalei um poço escuro arrebentando as vísceras
do tempo
e deixando seus pedaços pelas pedras escorregadias...
não tive medo do desfalecimento
do ser
solucei de saber-me só em trilhas
que pensara que só eu conhecia
reli linhas escritas
displicentemente largadas no lodo
como se valessem todos
os choros
como cartas indesejáveis sem destinatários
pelas horas infatigáveis que impõem o seu próprio fim
temi perder meus pensamentos que fugiam
não os tinha seguros
quando tinha pensamentos demais
enamorei-me da paz do silêncio
que mostra nuances invisíveis
do impossível
enquanto decifrava imagens em mim
indecifráveis
vasculhava meu coração e sangrava
aquela coragem absurda
de acreditar
e de sentir-se
completamente minha...
sentir é um pequeno momento
de lucidez
amar é sorver-se e reencontrar-se
no caos de ser várias
ao mesmo tempo...
de sermos nós
no tempo que há
minha mente ainda resiste
ao nada...
meu coração ainda insiste
em fazer morada
no templo do infinito...