Uma garra agarra e rasga a crisálida
Onde dormitava o deus do dia.
Apolo, com loiras melanias,
Beija a corola da rosa cálida.
Os dedos rosados da Aurora
Abrem as ventanas do mundo.
Desperta, num suspiro profundo,
A última estrela que vai embora.
A luz penetra coada pela copada
Das árvores tropicais e toca o chão.
Os seres do dia, como uma oração,
Assistem os resquícios da madrugada.
Os feixes dourados argentam a relva
Perolada pelo orvalho santo e sereno.
Pássaros quebram a mudez da selva
Mostrando como este mundo é pequeno.
Se tudo é renascimento e renovação
Qual o motivo de tudo ser tão fugaz?
Se se adora a aurora de cada dia
Porque um dia não nascerá mais?
Se tudo é sol reverberando magia
Qual o motivo de tudo ser efêmero?
Se já nascemos escrevendo o destino
Quem seria o autor destas páginas?
Se tudo é tato, olfato e palato
Qual o motivo dessa insipidez?
No mundo do quem sabe, do talvez,
Qual de nós seria o mais sensato?
Ah! Por pouco não morro ou não mato!
Indagações que insistem em furtar a alegria
Que me domina ao raiar de um novo dia.
Fechem as cortinas! É findo o último ato.
Gyl Ferrys