|
Re: Ode aos que amam
Estoiro-me, estoira-me a cabeça, Dói-me a fala e a falta de ar, A pressa, estoiro-me com a breca Dos cantores de opereta bufa patética,
Estoiro-me com o desprezo de obra De Otelo, estoira-me pagar eu dinheiro, Pra editar esta obra em grego, Estoira-me o destroço e o desdém,
Estoira o réveillon e os desejos, As balas estoiram em Sarajevo, Estoira o sangue sem glória, a peça De Ionesco, o fresco de Pompeia,
Estoiro os miolos, tentando este Mundo que me leia, antes que seja Meia-noite e meia e a lenha apague, Na sacristia de encastrar do cura frade,
Dói-me a fala e a falta de ar, A placa cai-me quando como, Sou um gnomo no outono, austeridade Sem nome do forno do pão no prelo,
Estoiro-me sem qualquer razão, Abençoado foi apenas Moisés E o seu cão, estouro-me eu, de vez Mas é, pois agora mesmo soube
Que o toiro de Noé era castrado E a vaca estéril da arca civil, Incrível a primavera e o florir, O trigo amansado plo suão vento,
Incrível é que seja supérflua, A nossa criável criatividade, Criamos as mais bizarras obras, Quem sabe se inventámos a lua,
Incrível que seja supérflua,
|