Não sou nada, nem ninguém, nem nada ou ninguém eu desejo ser, sou resultado de uma subtração infinita à paz interior e ao sossego, sou uma multiplicação de caos constante... Tento encontrar algo que apazigue este eco que se dissipa dentro de mim, vivo uma existência tão nula, sem nexo, tão translúcida, que às vezes até me esqueço que ainda existo, este corpo é a minha âncora a este mundo... Pergunto - me, se pertenço realmente aqui, não me sinto enquadrado em nenhum papel ou personagem nesta peça de teatro do criador, não vivo, nem represento consoante o guião que me foi dado, tem dias que até tento ser mais positivo, mas são poucas as alegrias que sou capaz de destilar de todas estas repercussões negativas que tenho sentido... Sinto - me roubado, negligenciado e até mesmo alienado pelo destino, como se por algum motivo do qual não sou consciente, eu não tivesse qualquer relevância, como se a minha criação tivesse sido um erro qualquer, que foi posto de parte para ser esquecido.. Mas se há algo que eu deseje nesta vida, talvez fosse um pouco de mesericórdia, um pouco de dó talvez por parte dos anjos lá em cima... Talvez eles pudessem silenciar esta "fome" que corrói o meu ser, talvez pudessem abafar os gritos da minha alma, quem sabe limpar as lágrimas que choro e já não são visíveis... Por favor terminem com esta realidade ilusória de quem pensa que me conhece, entende ou se importa comigo, não aguento nem mais um minuto deste tormento a que eles chamam de dádiva... As palavras, as conversas, as pessoas, os animais, as angústias, os rancores, o pôr-do- sol, as estrelas e até mesmo a luz do sol que colide no meu caderno é sempre a mesma, com poucas oscilações a vida é tão repetitiva, estão dissipando - se cada vez mais todas as minhas dúvidas sobre o mundo, a verdade é que a razão pela qual não pareço situar - me ou pertencer a nenhum lugar, estado ou situação sem sombra de dúvida que é porque eu nunca deveria ter estado aqui para começar... Nada mais sou do que o lixo reciclável de uma criação divina, incompleta e imperfeita.
De : Nuno Gonçalves
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