Há lamentos à deriva pelos montes
como nuvens que passam pelo Céu
solidão como água pelas fontes
e alegrias que o destino não me deu!
Não há regaço onde me chegue nem acoite
nem capa que me possa agasalhar
visto roupa carregada pela noite
e dores carregadas de luar!
Ó velhos sinos de Santo Antão,
por quem dobram, quem morreu?!
Foi a dor da solidão
que no meu peito apodreceu!
Morreu, morreu, morreu! Não partiu!
'Inda vive, triste, nos meus olhos ...
Todos choram, ninguém viu,
que de mim pende como folhos!
Nos olhos do meu rosto
sede rápidos a beber
e levai a ombros o meu corpo
quando eu da vida me perder!
Ó velhos sinos de Santo Antão,
por quem dobram, quem morreu?!
Quem vai no pinho desse caixão,
quem vai nele para o Céu?!
Alguém que um dia já viveu,
alguém que um dia foi alguém
que estava vivo e que morreu
e que agora é ninguém!
Pela Praça vai passando,
no ataúde, um coração,
por quem dobram sem descanso
os Velhos Sinos de Santo Antão!
Ricardo Maria Louro
em Évora
Aos sinos da Igreja de Santo Antão na Praça do Geraldo em Évora.
Ricardo Maria Louro