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Margô_T | Publicado: 07/08/2016 09:00 Atualizado: 07/08/2016 09:04 |
Da casa!
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Re: Signos.
Um “chão sem raízes” é um chão antigo, de “imagens pretéritas”, porque não teve tempo de arranjar o seu (devido) suporte sob o chão… com raízes profundas, robustas, incólumes.
Deste modo, este “chão sem raízes” é um chão retorcido - não pelas raízes (já que não as tem), mas por um passado que não se consolida, que não se fortalece… antes se retorcendo e torcendo em nós. Um “rio mórbido” é um rio sórdido, imundo… onde as “penumbras” se antevêem no seu leito. É um rio escuro, espécie de lodo, que flui devagar (porque mais denso, mais carregado de sombras…) conduzindo consigo todas as “imagens pretéritas” que deveriam ter ficado para trás. Uma “alma impúdica” sente o peso do dia com mais intensidade. “impúdica” no sentido de nela ter havido uma quebra da credulidade - e consequente aumento da consciência. E a consciência traz-nos, muitas vezes, “angústia”… por nos fazer ver melhor esse desfazer do dia sobre o dia sobre o dia sobre o dia… ciclicamente. Com um “chão sem raízes”, com um “rio mórbido”, com uma “alma impúdica”, as noites tornam-se “fumacentas” (como as ideias) e o sujeito poético fragmenta-se/esfuma-se nelas. Assim, torna-se “rosa sem pétalas/pássaro sem asas”… mas, acima de tudo, um “poeta ban(d)ido” porque a este poeta lhe foram roubadas as raízes, carregando consigo o peso de um passado não (devidamente) estruturado e uma noção (demasiado) consciente do que o envolve. Banido, portanto, dos dias. Mas bandido porque fugitivo de si mesmo, sem lugar onde ficar porque nem sequer em si mesmo pode ficar. E assim se e s f u m a . . . e nos esfumamos com ele. |
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