Todos os patos nadam
Como línguas e dicionários
Não sou nem nenhum bagre seco
Sim, mulato velho, meio caicó
Não puxo faca nem sou poeta
Caboclo matreiro, meio besteira
Meio leiteiro, nem uma assinatura
Meio letreiro, pouca rubrica
Quando tem treta pras bandas de lá
Arreio meu burro e pulo pro mato
Sou meio mestre, não toco viola
Meio vagabundo e ela toca em mim
Se grito no mato é de medo mesmo
Ou tem onça por perto e me arrepio
Se berro na cidade, ainda sem idade
To meio perdido, no meio fio da cidade
Sou animal querendo sal, querendo água
Logo caio do lombo e atropelo a estrada
Me escorrego do arreio e em teus seios
Sou meio chicote e sento reio e apanho de mim
Ufa!
Todos os patos nadam
Só os “paturebas” se afundam
José Veríssimo