Notável em tudo que fez
Quevedo, foi um esplendor!...
À guisa de Pedro e Inês,
dum tema bem português
fez um soneto de amor.
Não tardou que um plagiador,
com certo jeito cigano,
entendesse que esse amor
era um amor lusitano..
E zás!... duma penada soez
deu um toque português
ao soneto castelhano,
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Se Quevedo, não plagiou Camões; então alguém plagiou Quevedo, sem assinar o plágio; E, a julgar pelo estilo,
teria sido atribuído a Camões, post mortem
Es hielo abrasador, es fuego helado,
es herida que duele y no se siente,
es un soñado bien, un mal presente,
es un breve descanso muy cansado.
Es un descuido que nos da cuidado,
un cobarde con nombre de valiente,
un andar solitario entre la gente,
un amar solamente ser amado.
Es una libertad encarcelada,
que dura hasta el postrero paroxismo;
enfermedad que crece si es curada.
Éste es el niño Amor, éste es su abismo.
¡Mirad cuál amistad tendrá con nada
el que en todo es contrario de sí mismo!
Francisco de Quevedo
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís Vaz de Camões