Desfaço as palavras
Usando as palavras para me satisfazer,
quando as escrevo, as leio e as desfaço,
ou esmagando-as com o divinal prazer,
como se de cada fosse de mim um pedaço.
As palavras desfeitas refaço-as ao escrever,
com amor, com ódio ou com embaraço,
A mão do poeta até pode ter,
nas palavras trocadas que brotando do regaço.
Com as palavras faço amor,
como o amor jamais foi feito,
e com a troca de palavras faço humor,
se para isso, ainda, tiver algum jeito.
E dou a palavra e o verbo que sobrar,
ao povo, ao poeta ou ao deputado,
a quem quiser com as palavras jogar,
e esteja, por Deus, abençoado.
Ora vamos lá continuar a desfazer,
as palavras com todo o cuidado,
para poder continuar a escrever,
e ter os Deuses sempre a meu lado.
João Garcez