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Almocei, um pouco cansado.
- Lendo "Ana Karenina" e na cabeça mil e uma preocupações coma minha triste vida. O livro ainda não chegou e tenho as minhas duvidas se realmente vai chegar. Penso nas desmazelas que podem ocorrer, não vejo um bom futuro para mim, pois todas as galáxias conspiram contra mim. Entristeço-me a cada instante por motivos banais. refugio-me na leitura. Porque nasci para ser o que sou? - Um insignificante,onde nada dar certo, tudo é uma dificuldade, nada vale a pena.
- O cheiro de tinta de cabelos - a poetisa dos cabelos, a bela Idaline Pura pintando as madeixas de Sarinha. Professor sentado na calçada. Na oficina de manhã, ganhei quinze reais, dei cinco para Seu Nezinho. Professor solicito levanta-se e fecha a cancela, uma senhora vizinha tirou um balde d'agua da cisterna. Mama Grande preocupada com algo que perdeu - uma fomizinha enjoada, minha vida a deriva - sem amor e sem esperança. Mama inconstante, levanta-se a toda hora e anda de um lado para outro. Meu filho apareceu, veio buscar os dois reais que emprestou-me ontem. Minha Cunhada e Clarinha foram buscar uma compras. Seu Carlos entra de supetão e vai direto para o aposento do casal, apanha a mochila, coloca o desodorante e sai sem dizer nada a ninguém. Fiquei feliz em rever o meu filhote e seus eternos problemas com a mãe. A musica enjoada e repetitiva do arraial. Matraquinha saiu pesado auxiliado por Gato que o deixou na porta da casa e o entregou para sua genitora, a bondosa mãe Cândida. O arraial estava em pleno vapor com a radiola do CB-450, tocando bem alto. Fumei um bom 'baseado" que ganhei ao meio-dia, quando retornava da oficina em companhia do meu fiel escudeiro Seu Nezinho fui cercado pela rapaziada que bebiam uma garrafa de cachaça - Mano brown, Nilson, Mizico e Gato que fez um sinal para mim, chamando-me.
- O senhor não tem nada? Perguntou-me enquanto andávamos para trás do kiosque de Seu carrinho Cotia.
- Nadinha - respondi-lhe secamente e louco para desvencilhar-me.
- Então vou dividir com o Senhor - E foi logo rasgando o cartucho bem servido de chila no meio dando a outra metade.
Dei um bom tempo na praça,ouvindo as musicas do meu passado, os arraiais sem fizeram presente, desde os primórdios da adolescência na Rua Afonso Pena, acompanhando a minha avó Mãe Bibi para vermos as brincadeiras juninas.
- Que horas tem? - pergunta-me Mama com sua vozinha deitada na rede toda enrolada.
. Como sempre injuriado com a situação que nunca se defini. O livro que nunca chega,já até desisti do mesmo.
De volta ao lar depois de um passeio tradicional pela oficina para fumar 'unzinho" e dar um tempo na praça. Me cunhada ganhou uma cama da nossa vizinha do lado. Uma irmãzinha da igreja vem buscar as chaves do salão. Fui remedir as medidas da tampa da cisterna da avô de Pelezinho. Feriado dia de Corpus Christi. Azafama dos domingos numa quinta-feira. Minha cunhada arreliada no preparo do opiparo almoço - tortas, carne de panela, macarrão e para completar,pede ao Seu Pietro e factotum de Professor comprar o vinho básico. Voltei ao Seu Raposo para apanhar uma Coca-Cola e um maço de cigarro.
- Dona Dadá Seu Pietro foi ara onde? _ Pergunta Antenor deitado na cama do casal. Um cobrador veio buscar a sua verba que a minha cunhada estava devendo. Ela apanhou o dinheiro no quarto e voltou para entrega-lo. Seu Pietro entra com o vinho na sacola. O cobrador agradece e vai embora contente. Choveu um pouco. estou acima de mim, pensando nas chacotas que as pessoas fazem de mim ao ver-me de modo diferente, a minha pobreza aparente, meu desleixo e etc. O que me faz superar tudo isso é a boa literatura tanto lida com escrita. São eles que me salvam das injustiças que vivo. Agradeço muito a Daudet, Balzac, Dickens, Dostoiévski, Cervantes, Kerouac, Miller, Hugo e outros mestres que tanto admiro e tento me espelhar. Quando contemplo a minha pequena biblioteca com os meus bons e novos amigos como Max Gallo e seu Napoleon em francês, sinto-me feliz em tê-los na minha companhia e me servem de abrigo. Aguardo o meu livro, o meu sangue literário chegar. Sarinha sai com uma torta para uma confraternização entre os irmãos do Salão.
- Bota logo - Grita minha exasperada cunhada para sua filha Larissa que serve o cunhado deficiente - Bota o pedaço de carne para ele, salada tudo que ele tem direito - Minha belle-soeur tem um grande predileção pelo genro e por Seu Pietro. Não tenho escrito nada além desse diária que mantém aceso a chama. é aqui que desabafo todas as minhas angustias, coisas que não ousaria dizer a ninguém e serve de laboratório para os próximos passos. Leio as ultimas paginas do monumental romance de Tolstói.
Cheguei da casa de um velho colega de chila e de trabalho - ambos trabalhamos no Tribunal de Justiça em setores diferente - ele como serviço geral e eu datilografo. Roberto Carlos inunda o ambiente com sua voz anasalada e romântica. Oswaldo ou Traira ou Mão de Paca ou Puxa Ova como é conhecido no bairro do Pão de Açucar - Fumamos um baseado na casa dele. Minha cunhada penteava a pequena Clarinha que esta com a garganta inflamada.
- Larissa? - Grita - Faz um pratinho para Pretinha.
Pretinha é a uma cadela de rua adotada não oficialmente por Sarinha que vem todas aos dias na hora do almoço e no jantar filar. O caminhão de lixo veio apanhar os sacos jogados no meio da rua - levanto-me e vou vê-lo. Um caminhão de entrega. Mama Grande levanta-se da rede e vem para a sala, minha cunhada a reboca de volta para o quarto.
- Deita, Dona Engracia - Grita minha cunhada. Ela escorregou da rede aos olhos de minha cunhada no quarto, caindo devagar perto da cama. Levanto-a e a coloco novamente na rede.
- Obrigado, Meu filho - agradece gentilmente com seus olhinhos miúdos.
encerro com saudade as peripécias literárias do grande Leon Tolstoi e seus impagáveis personagens. Colocarei no seu panteão ao lado dos outros mestres. Ficou depois de Max Gallo. Hesito em ler Dickens ou Joyce.
Tentei ler Dickens, mas os 'contos' são muito longos e um pouco enjoados. Não é o mesmo Dickens autor de romances inesquecíveis com "Oliver Twist", "Dave Coperffield" e o impagável "As Aventuras do Sr. Picwick" - o seu fiel mordomo Sam Weller e o bufarinheiro Zarolho. Começa a musica do Arraial com um antigo sucesso dos anos 70 -"´E Proibido Cochilar". Alguém chama minha cunhada do terraço. Comprei cigarros e um litro de vinho para a minha ébria cunhada. As meninas de Daniele estão aqui. Penso no meu amado filho sozinho passando as suas com a mães dominadora. Minha cunhada começa a contar suas velhas historias que as repetes todas as vezes. O mecânico Sarney passa bêbado e gritando vindo da bocada lá de baixo. Uma lambada original do Caribe. Um cãozinho vadio cheira alguma coisa no meio da rua. Os irmão abrem o Salão com a chave que pegaram aqui. Desde segunda-feira que não vou a Lan-house, estou tão debaixo que nada me alegra. Sempre pessimista, pensamentos negativos o lado obscuro do meu ser, por mais que busque uma ordem encontro somente o caos. Um barulho generalizado vem da cozinha, ouço a voz esganiçada de minha cunhada berrando com as meninas. Mamãe fechou a porta da rua e volta lentamente para a sua cadeira. Alguma delas chora. Que vida esta minha, morro aos poucos.
- Cala a boca - Ordena para uma delas que chora copiosamente - vai apanhar de novo. O pastor saiu de moto, Pretinha deitou-se no asfalto. Uma irmã branca vestida de preto sentada na calçada levanta-se e atendeu o celular.
As meninas estão super agitadas, torrando a pouca paciência de minha cunhada. A caneta falha,a troco por outra que peguei na casa do meu pequeno filho. Tive a impressão que ouvir a sua voz peculiar passando pela calçada da oficina conversando com algum parceiro. estava deliciando-me com um bom baseado no fundo. Uma lambada das Antilhas Francesas bem antiga - as meninas perderam o medo e bagunçam n a sala sob o olhar impassível de minha cunhada que segura uma sandália na mão. Fumei um careta após o café. Almocei bem, estava delicioso - o corpo dolorido, mas não gastei os cinco reais que ganhei ontem. Pretinha deitada na porta do salão. Minha cunhada vem para o terraço onde estou lendo. As meninas a acompanha. Colorzinho o animador oficial do arraial anuncia as atrações da noite ou seja nada. Minha cunhada entra e leva as pixixitinhas par deitarem. Uma delas chorando. Entrei para assistir o Jornal Nacional - Maman caladinha com os bracinhos cruzados no peito cochilava sentada na cadeira. O vaso sanitário entupido desde de manhã e a minha zelosa cunhada acusa todo mundo. Tento terminar um conto enfadonho do mestre Dickens
- Te aquieta, te aquieta - exasperou-se minha imbatível cunhada com as capetinhas no quarto - Não mexe nesse ventilador, tu é teimosa Brunielle . Um cachorro late no quintal da vizinha do fundo. Levo a matriarca para o quarto, não esta muito boa, ficando fraca das pernas. Ajudo-a a vestir seu surrado chambre e a deita-la na rede. Apago a lâmpada. Assistindo o Jornal Nacional com a minha cunhada catando a cachorra, a musica do Arraial reverbera muito aqui dentro como uma grande caixa de ressonância.