Prosas Poéticas : 

Carta à distância que nos une em Beijos de Outono ...

 
Carta à distância que nos une em Beijos de Outono ...
 
Évora, 01 de Junho de 2016.

Meu Amor, meu grande e infinito amor ... Assim te escrevo porque assim te sinto ... Assim te vejo, assim te espero ... No frio da noite que me envolve recordo o teu olhar, o teu toque, o teu beijar ... És corpo do meu corpo, carne da minha carne, Alma da minha Alma. Porém, longe, distante, ausente - mas em mim! Tão perto te vejo, tão junto te tenho, abraço, toco-te, sou eu ... Acredita que te espero em eterna fantasia ... De que eras, de que tempos, de que vidas ou lugares vimos nós?! Não sei! Só sei que sem ti o Céu é escuro - meu triste e pobre Céu! Sem ti as Primaveras são longínquas, os mares são finitos, os campos secos e alagados de solidão ...

Meu triste e pobre coração! Sem ti! Sem ti! Que posso eu ser sem ti?! Nada mais que eu - sem mim! E à noite, quando me deito, meu leito, frio e melancólico pergunta-me por ti ... E eu? Que lhe posso responder? Que és longe, distante ... Mas que te espero - ainda! Eis quando os braços da tua ausência enlaçam o meu corpo de mistério e me adormecem num imenso respirar de esperanças fugidias. Esperanças vãs! Tão vãs quão vão é este momento!

E os sonhos são tormentos. Porque as noites são sem estrelas ... As manhãs são velhas e pesadas ... cada passo solitário ... cada momento feito de saudade ... cada instante de memória numa fria e funda recordação ... E a cada nova aurora, nova esperança que tu venhas, novo dia de mil esperas ... mas vem a noite e tudo tão igual! Tão frio, tão gelado, tão fatal ...

Assim me vejo:
eu sem ti, de mim perdido, triste, só e vencido. Um beijo! Um beijo apenas! E nada mais que um beijo levaria este feitiço ... o teu beijo ... um beijo teu ... e assim me encontro, assim me sei, assim me entrego. Vai nesta carta minha, meu intimo e ultimo calor ... meu amor ... meu amor! Das horas tristes sem piedade, onde nem o silêncio e a saudade têem como ter em nós lugar ... e como dói a solidão, a ausência dos teus braços, que me esventra de paixão, que me sufoca o coração!

Afinal que destino posso eu ter longe de ti?! Sou um miserável! Responsável pelo triste fim da nossa história! Odeio-me por isso! Odeio-me! E em que pensas tu neste momento? Que fazes? Com quem? Lembras-te de mim? ... São perguntas ... apenas isso ... perguntas! Perguntas sem resposta ...Vivo entre o sonho de te ver e a realidade de perder-te! Tenho esperança! Mas ela é mais frágil a cada dia que passa e tenho medo que a qualquer momento se desfaça em pó! Não quero perder-te apesar de já te ter perdido ...

Mas 'inda assim, a esperança, é a única coisa que nos une. E rezo a Deus para não perde-la ... E rogo-te a ti, encarecidamente, que rezes, também. Porque um dia voltaremos a ser um, e, por isso, precisas que eu te espere, ainda ... A memória trai o nosso amor. Meus sentidos já não guardam os teus gestos como antigamente, a cor do teu olhar, o toque da tua pele, o timbre da tua voz, o teu cheiro. E sofro por isso! Tanto! Tanto! Que nem podes pressentir ... E já não escrevo, já não falo, já não canto ... Só quero morrer! Só quero morrer! Meu amor ... meu amor! Tua partida foi p'ra mim um longo Inverno, tal o tamanho da minha solidão, hoje, é Outono. Um Outono prolongado na distância que nos une ...

Ontem, junto ao Poço da Moura encantada, ao largo da Sé, escrevi para ti estes Beijos-de-Outono:

Teus beijos, meu amor,
lembram pálidos cansaços
na solidão de tantos braços
onde grita o desamor!

Esses beijos - que pavor! ,
são os livros que eu não li
são os olhos que eu não vi
são punhais do teu amor!

Ai, teus beijos Invernosos,
marcam passos rigorosos
no silencio e na saudade!

E até nas horas de sono
os teus Beijos-de-Outono
são a minha ansiedade!


Meu Amor, apetece-me queimar esta carta, para que, o fumo das labaredas que consomem o papel, levem a ti, este sentir que tanto me avassala e consome o coração. Soubera eu que o fumo das chamas te podia incensar e acredita, não hesitava um segundo! Estou cansado: De escrever! De sentir! De sofrer! De amar! ...

É noite! E mesmo sabendo que não vou adormecer, vou deitar-me triste e só no meu leito cansado de me ouvir, mas sempre disposto a acolher-me ...

De ti, despeço-me!
Desta carta, evado-me!
Da Vida, não sei ...

... nunca soube ... nunca saberei ...

Adeus!
Do sempre só!
Richard Mary bay


Richard Mary Bay
"o Último Romântico"

 
Autor
SirRichard
 
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