Há muitos anos atrás morava em Iúna um homem bondoso que a todos tratava com o mesmo carinho de sempre, não se importando se era rico ou pobre. Este homem tinha um coração enorme e a todos ajudava.
Ele foi vendedor, Fiscal de Renda, Vereador e Prefeito, muitos candidatos recorriam a ele pedindo que ele apoiasse a sua candidatura, pois sabia que neste homem encontraria a certeza de muitos votos.
Este homem que estou falando é nada menos, nada mais que o Romeu Rios, que fazia o grande baila da quadra (hoje posto de Gasolina Ipiranga), todos os anos e elegia a Rainha mais bonita da cidade que sem dúvida era a Antônia, funcionária da Antiga Santa Casa de Iúna, hoje Batalhão da Polícia Militar de Iúna .
Era festa neste dia, a quadra não cabia mais ninguém, pois isto era um acontecimento mais que politico, pois eleger uma rainha da cidade por um dia era como que fazer um gol num maracanã lotado.
Antônia era maquiada, fazia unha, cabelos, sombra celhas, se sentia como uma rainha de verdade, e tinha sim a coroa que era uma imitação, mas era uma coroa mesmo, que ela colocava na cabeça, e passava para ela mesma, pois a cada ano ela ganhava a eleição de disparada das outras candidatas.
Romeu Rios também fazia mais coisas na cidade de Iúna, tinha o boi pintadinho que saia junto com a mulinha e arrastava multidões por esta cidade, na casa do Romeu todo dia que o boi pintadinho ia sair juntamente com a mulinha não tinha como andar na casa dele, pois tinha tanta gente que mal cabia na casa, e se espremia pelo canto somente para ver o Nenê Machado se vestir para montar na mulinha.
Ela era um balaio com uma abertura no meio, mas nem isto fazia com que o povo ficasse impressionado com tamanha beleza que a mulinha demonstrava.
O boi pintadinho era diferente, era feito de um balaio que tinha uma pequena abertura abaixo do pescoço do boi somente para quem estivesse debaixo do balaio pudesse ver o que tinha pela frente, ou se tinha algum engraçadinho para ele chifrar.
O boi era feito de uma cabeça de boi que o Romeu pedia no matadouro ao matador de boi que quando tivesse uma cabeça de boi bem chifruda para guardar para ele. Pendurar num lugar bem alto e deixar que o tempo fizesse o resto, para que ela pudesse ser secada, e ficasse somente o esqueleto.
Depois o Romeu Rios juntamente com Nenê Machado, o Verano, o João Teixeira e o Tio Hélio, começavam um mês antes a preparar a mulinha e o boi para sair durante um mês pela cidade de Iúna.
Ele pegava a cabeça e costurava um pano ( que carinhosamente o comércio doava para pudesse fazer a festa ) na cabeça do boi para que ele ficasse mais elegante, colocava dois espelhos de cabelos (aquele antigo espelho de bolso ), para que o povo pensasse que o boi enxergava mesmo, colocava um pano enorme no balaio ate o chão para que ninguém pudesse ver que tinha gente debaixo do boi, pois o que mais chamava a atenção era saber que ninguém descobria quem estava debaixo do boi, pegava areia e enchia um pano enorme e fazia o rabo do boi, que de verdade mesmo neste boi so tinha uns pelos no final do rabo que era de boi vivo mesmo.
Quando dava 5:00 horas da tarde, envolvia-se fogos, muitos fogos, crianças correndo para a barra da saia da mãe com medo de que o boi ou a mulinha pegasse ele, pois corria uma lenda que quem chorasse ou ficassem com medo do boi ou da mulinha, seria pego pelos mesmo em sonhos, por isto as crianças apenas gritava e escondiam as vezes debaixo da saia da mãe para não demonstrar tanto medo assim.
Lá ia o boi e a mulinha, o povo atrás e os corajosos na frente com um pano vermelho enfrentando a fúria do boi que corria atrás dos mais corajosos para poder chifrar.
Logo atrás vinha a sanfona rasgando o fole e a multidão cantando toda feliz . ESTE BOI NÃO É MEU, EI BOI ESTE BOI É DO ROMEU, EI BOI, e assim iam pela cidade inteira até 22;00 horas, dizendo que pena o boi vai dormir junto com a mulinha mas amanha se Deus quiser estamos nos todos com mais disposição cantando e vibrando com esta linda festa que temos todos os anos neste nossa cidade.
Romeu Rios era uma pessoa muito bondosa, de madrugada mesmo na tua casa lá pelas 3:00 horas da manhã, uma panelada de sopa, mingau de fubá, macarronada, canjiquinha, costela de boi, miúdos de boi ou de porco, para que as pessoas que iam trabalhar e juntamente com os caminhoneiros que passava na tua casa para tirar nota fiscal saborearem um prato de iguarias deliciosas para poder seguir em frente e fazer a tua viagem mais feliz.
No posto fiscal de Pequiá – Iúna – Espírito Sant o ( divisa do Espírito Santo com Minas Gerais ), diversos caminhoneiros que por lá passavam de madrugada deixavam lingüiça. Macarrão, carne, ovos e muitas outras coisas como verduras, para que o Fiscal Nanão como era chamado carinhosamente pudesse nas madrugadas frias fazer comida para poder alimentar os caminhoneiros que por ali passavam todos os dias.
Romeu foi Vereador de Iúna, e depois candidatou - se Prefeito e foi eleito, pois a tua campanha era feita de casa em casa, não importava onde morava o eleitor ele subia e descia morros, não economizava caminhada, lá ia ele pedir o voto e dar um golinho de canelinha para o eleitor matar a sede naquele sol quente.
Ganhou com bastante folga e foi Prefeito de Iúna por um mandato de dois anos.
Nunca prometeu nada para os eleitores, pois a tua campanha era feita de abraços, de carinho que tinha pelo povo e por ser uma pessoa que estava com as portas abertas a hora que o povo precisava, pois o povo que vinha da roça para ir ao banco sempre parava na casa do Romeu para poder almoçar, tomar uma água ou um simples café e bater um bom papo com o Romeu.
Lembro-me de uma festa que teve no Iúna, festa mesmo que o Júnior do Botafogo veio jogar aqui com o Rio Pardo, tinha tanta gente que foi preciso colocar os caminhões da prefeitura para poder buscar e levar as pessoas para os seus destinos.
Neste dia também veio o Agnaldo Timóteo, que deu uma de juiz e como um Botafoguense apaixonado, começou a roubar para o time do Rio e do teu coração, levou uma vaia daquelas por estar tentando ajudar o time a ganhar no apito.
No outro ano, último ano de mandato de Prefeito de Romeu Rios ele trouxe o teu time de coração para jogar na cidade de Iúna, na festa do Município o Clube de Regatas Vasco da Gama, que fez uma linda partida com o Rio Pardo, foram 2 anos apenas de mandato mas Iúna teve festa, alegria e o povo se sem tia feliz por ter participado de 2 grandes festas que Iúna nunca tinha visto antes.
Quando foi Prefeito Romeu Rios sempre juntava os empregados e fazia um grande churrasco para todos, assim eles se confraternizavam e riam, contavam causos, choraram de alegria e bebia cerveja, guaraná, pinga e a tradicional canelinha.
Hoje em dia somente temos lembrança de tudo que aconteceu e das festas que tinha, pois hoje em dia não existe mais festa como esta, não temos mais o baile de gala que tínhamos na quadra ( hoje Posto Ipiranga ) que fica bem no centro da cidade de Iúna – Espírito Santo, mas como diz o ditado tudo que é bom dura pouco.
Que saudade do boi pintadinho que alegrava juntamente com a mulinha um mês inteiro as tardes noites de Iúna, o povo era feliz e não sabia.
Teus companheiros inseparáveis, uns já falecidos outros ainda não, que pegavam juntamente com ele na dura missão de fazer este povo sentir que a festa era digna de uma cidade como Iúna, Romeu Rios, Nenê Machado, Pedrinho, Verano, João Teixeira, Tio Hélio e muitos outros, vocês sim fizeram a diferença nesta cidade que um dia havia sim festas e diversão pelo menos uma vez por ano um mês inteiro.
Nos os moradores que vivemos isto, sentimos isto, nos divertimos muito com este cenário de beleza que sem duvida nunca mais vai ter nesta cidade, agradecemos a todos de coração, os que ainda vivem aqui e os que um dia aqui viveram e hoje já não se encontra mais por aqui.
OBRIGADO DE CORAÇÃO!
Marcus Rios
Poeta Iunense - Acadêmico -
Membro Efetivo da Academia Iunense de Letras (AIL)
Membro Efetivo da Academia Marataizenses de Letras
Uma homenagem ao meu saudoso pai.