O Sonho e os Choupos
Ao nosso lado direito o ribeiro corre livremente, devagar,
num ritmo compassado, indiferente à nossa presença.
Estamos deitados à sombra dos choupos, na erva verde e viçosa,
que permanentemente parece agradecer às águas que passam,
a vida exuberante, extrema, saudável, que ostenta vaidosamente,
e que provoca em nós uma inveja imensa, tranquila, redentora,
quase não nos parece inveja...
Está-se bem aqui, a sombra profunda e a erva fresca protegem-nos
dos raios abrasadores e deixam-nos suavemente atordoados,
dormitantes, como quem sonha acordado.
Passo pelas brasas, num meio sono leve, ligeiro,
e deixo-me levar num sonho bonito, que por parecer tão perfeito,
me parece desde logo que é um sonho...
Dançamos por entre a floresta de choupos esguios e pouco vestidos,
que projetam uma sombra compacta apenas pela densidade da sua população,
parecendo todos eles de mãos dadas, comprometidos, entrelaçados
e debruçados sobre as margens do riacho, num autêntico ritual
de veneração, de agradecimento e de cumplicidade tão natural.
Danço contigo rodopiando, apenas para relembrar como era dançar,
prazer que usei em tempos e do qual me esqueci.
E continuo a sonhar, devagarinho...
Aah!!, tão bem que se está no campo!
Ruinav