O Menino e o Abutre
(Dedicado a todas as crianças do Mundo)
Em uma fétida lixeira magra e em putrefacção,
Esquelético, exânime e já a tombar inconsciente,
Tenta o menino num esforço colossal, ingente,
Achar a última migalha de pão;
Deleitado com a crueza da fatal inanição,
Um esfomeado abutre voraz e inclemente,
Festeja já a derrocada iminente,
Da sua ansiada refeição;
E logo outros abutres céleres chegarão,
Ávidos, famintos, sedentos de sangue quente;
E numa orgia sádica, demente,
O corpinho do menino todo sugarão;
Este quadro espelha as agruras da indigência,
A mesquinhez da avara opulência,
E o espezinhar dos que clamam por justiça;
E assim vai este mundo erradamente concertado,
Promovendo uns e a outros dando um mísero estado,
E nutrindo-se nas leis da injustiça.
-- Helder Oliveira --
(Helder de Jesus Ferreira de Oliveira)