Existem dias que se colam à sola do sapato como merda de cão
Por mais que raspe com o pé no passeio
Que esfregue energicamente com a sola na relva do jardim do vizinho
O cheiro da merda paira onde quer que meta o nariz
Existem noites que parem o mesmo dia durante muitos dias
Chuva de pedra, frio e gelo nos olhos defuntos
Vento nortada de passos sem norte que vêm para sul
Celebrar a festa dos mortos no dia do meu aniversário
A mesa posta, as velas acesas e as cadeiras todas vazias
Só compareceu quem foi convidado, o único penetra, sou eu.
Existem dias que têm de ser celebrados todas as noites.
Viver é sair para a rua de manhã, aprender a amar e à noite voltar para casa.