Era nos meus sonhos mais fecundos,
ostentava uma coroa sob as melenas,
jovem mênade com olhos profundos,
nas finas mãos a guirlanda de açucenas.
Dizia olhando o meu rosto vergastado,
inundada ela pelos raios plenos do luar:
"Oh, tu, que vais na vida, assim cansado...
Esquece essa a tua sobriedade vulgar".
Ansioso para abraçar, quedava-me ledo,
não me atrevia a dizer uma só palavra,
assim cansado da vida neste degredo,
foi ardor, não apenas a paixão escrava,
Bastava que do amor vibrasse a vergasta,
e tanto ateasse venturas como imenso mar,
nos lábios queimando o fogo, dizia casta:
"- Segue-me para o cansaço da vida mitigar"
Célere rendi-lhe o jugo, caído aos seus pés,
febril bebendo da paixão sensual da vida,
sabendo que o esquecimento seria o revés.
repudiei a alma vagando fatigada na lida.
Repleto de luzes acesas, ali tão extremoso,
amor será para o mundo inóspito o escudo,
as canções fluirão como o toque mavioso:
"- Até que cesse a lira, guarde o tino mudo".
Adorada musa em rubras vestes, bela vestal,
foi alvissareiro que respondi logo ao chamado,
do júbilo largo e farto esta paixão será o sinal:
"- Oh, tu, que vais na vida, assim cansado...".
" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."
Poema agraciado com menção honrosa em evento do site Casa dos Poetas e da Poesia em 20052016