Os seres vivos ao morrerem sofrem vários processos naturais, dentre eles: a decomposição – que garante a liberação de nutrientes do organismo morto para a natureza – e a putrefação, que dependendo das condições do ambiente onde o corpo descansa pode sofrer retardo ou aceleração no processo, geralmente liberando odores muito ruins e fétidos.
O processo de putrefação necessariamente não está ligado a um organismo morto, pode ocorrer em parte do animal vivo sem que aconteça efetivamente o óbito.
No evento da decomposição orgânica a matéria ao se decompor nos seres vertebrados, conserva o tecido ósseo formando carcaças de esqueletos que exalam cheiros profundamente desagradáveis, mas disputados por vários animais de hábitos digamos fora do comum, porém, garantidores do equilíbrio natural das espécies; tais animais são conhecidos como necrófagos e são representados pelos: abutres, urubus, hienas, escaravelhos além das moscas.
No dia 12 de maio de 2016, após agonizar por algum tempo e já apresentando sinais de putrefação, contudo sem sucumbir, morreu um animal gigante de aproximadamente 8 milhões e meio de quilômetros quadrados de tamanho, tragicamente governado e administrado por uma matilha sedenta e voraz por domínio e poder e, com indícios irrefutáveis de prática contumaz de corrupção, esse colossal cadavérico chama-se Brasil.
Depois de constatado o óbito do gigante, os necrófagos começaram a agir cumprindo sua missão natural, passaram então a consumir todo o material orgânico em vias de decomposição institucional, protagonizando espetáculos circenses, inclusive com uma mudança espacial da lona do circo, ora virada para cima, ora virada para baixo, mormente travando uma disputa desleal e caracterizada por um jogo perigoso, com objetivos colimados e voltados apenas para os próprios interesses.
O consumo da matéria em decomposição foi frenético por parte dos famintos e descontrolados seres de segunda linha, resultado: sobrou uma carcaça de carniça que a despeito de toda e qualquer regra natural produziu uma estrutura disforme, onde enquanto viva compunha-se de trejeitos amorais, com uma administração pavorosa e trágica, no entanto, mesmo depois de solenemente degustada, paradoxalmente, apresentou-se como atraente e cheirosa.
Sequencialmente aos eventos da decomposição e da putrefação do moribundo, os necrófagos passaram então a delinear como aproveitariam o restante da carcaça, e como num passe de mágica produzida por uma vara de condão lídima e de extraordinária ação; transformaram-se em paladinos.
O moribundo então foi patrioticamente chorado e velado com arroubos de sentimento pátrio sem que houvesse o devido engajamento nas coisas e nos destinos do país, restringindo-se apenas a contestar, contudo sem apresentar nenhum projeto de futuro, sem pressionar os necrófagos a mudarem a situação de inapetência administrativa que assolara o de cujus enquanto vivo.
Por fim, a conclusão a que chego é a de que: sai a trupe e entra o abutre; onde efetivamente por ação institucional e constitucional os abutres já efetivaram as trocas dos “cachorros”, sem verdadeiramente, permutarem as “coleiras”; coleiras estas caracterizadas, grafadas e viciadas pelos mesmos ritos de outrora, além do que, as peças substitutas são velhas raposas, hienas e abutres conhecidos da arcaica e cíclica política brasileira.
Rematando, pois, oxalá que não percamos a confiança, o elã; rogando, talvez como na mitologia grega, que a carcaça da carniça entre em combustão, surgindo das suas cinzas o pássaro Fênix da esperança, da fé, da força inexpugnável que sempre brotou do gentílico brasileiro; que possamos e passemos a desfrutar dos benefícios e benesses de uma profícua gestão pública, pautada na honra, na honestidade de propósitos, de princípios e de atitudes, mesmo a despeito do cenário de momento ofertado, afinal, isso é o mínimo que nós brasileiros merecemos e esperamos que aconteça.