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O primeiro caderno amarelo- II

 
II

Tarde na oficina esperando o caminhão da Ferronorte com os materiais para fazer uma tampa de caixa de gordura para um antigo conhecido lá do Desterro. Paulinho antigo patrão de camarão, ele gerenciava uma peixaria que comprava e vendia camarão situado debaixo da casa de seu Oiama Cardoso.

Fumava o segundo 'baseado' da tarde no momento que o caminhão parou do outro lado da estreita avenida. Apaguei-o rapidamente e aspergir o resto do perfume jogando-o para o ar. Esparecer um pouco o forte odor de marijuana que inundava o fundo da oficina. Mas eles, o motorista e u ajudante, devido os materiais estarem debaixo de outros ferros bem pesados , impossibilitando-o a retirada da encomenda, (Uma falha de memória, o costume abusivo de escrever somente em francês, quase quatro anos, as vezes já acho difícil não escrever). O genro de Seu Biné, meu vizinho desce de uma lotação. Ele atravessa a pista para ir sentar-se ao lado de seu sogro. Dona Zizi atravessa cuidadosamente a pista protegida por uma sobrinha. Paulinho foi lá em casa, no exato momento em que eu dormia um pouco. Mas acabamos de nos encontrarmos aqui na oficina. Ele veio saber se o material dele já tinha sido entregue. Responde-lhe que não, estava esperando-o para agora a tarde – tenho dois cadernos – mesmo tendo consciência que meu francês é sofrível e ninguém quase consegue compreende-lo, insisto em escrever nesse idioma que tanto admiro. Afinal publiquei ou melhor realizei o meu grande sonho de publicar um romance na França com contrato e tudo. Já paguei o meu exemplar, mais ainda não o recebi – foram quase cento e oitenta reais por um trabalho meu e de minha amiga a poetisa Juli – Quando tiver saco, escrevo essa aventura cibernética que vivi na luta para realizar esse sonho quase impossível. É verdade (segundo a Edilivre ainda não vendi nenhumas tudo bem não me importo, quero o meu exemplar, poder manuasea-lo e lê-lo com bastante carinho – cariciar suas paginas com a mesma ternura que um pai faz com o filho.

Mas tarde na mesma tarde

Uma pausa na leitura do livro em francês “Opium Rouge” para degustar um bom mingau de milho que uma senhora vende de porta em porta todas as tardes. A cantoneira, a barra e a chapa de l/8 chegaram – fiz as devidas medições e comecei a corta-la com a talhadeira e o martelo. Meu filho esta na casa da mére Douce – a mãe dele viajou a negocio, foi fazer compras no Ceará e na Feira de Caruaru . Será que ela é feliz? Mingau gostoso.

A vendedora ambulante de mingau passa puxando o seu carrinho com a grande garrafa térmica, talvez vazia – presumo que ela vendeu tudo. Minha ex-cunhada, irmã da minha ex volta de sua caminhada vespertina. Um senhor vem procurar pelo meu vizinho, o barbeiro Costa que deve esta dormindo de ressaca.. O céu cinzento. Me despeço de Seu Nezinho, ligo energia na chave da rua, a lâmpada se acende, abaixo a porta e vou para o fundo da oficina.

Noite – Sala de visita da III Casa Bamba – Vila Embratel

20:15 As crianças na sala, mamãe deitada no quarto, Larissa no computador. Professor, meu irmão mais velho ainda na farra. Preparo um macarrão Nissin Niojo, acabo de colocá-lo (depois de esmigalhá-lo um pouco) na panela onde água fervia. Minha cunhada briga com a irrequieta Clarinha.

Trecho do livro "Enquanto Escrevo" da Editora Clube de Autores (www.clubedeautores.com)

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 01/06/2016 04:10  Atualizado: 01/06/2016 04:10
 Re: O primeiro caderno amarelo- II
Um capítulo vivo, com um momento sublime:" Será que ela é feliz?"

Abraço