Inverno frio e gelado
Sempre te soube pastor, e daí não veio nenhum mal, uma vez que a virtude é guardar as ovelhas e afastar qualquer outro animal.
Sempre te soube pastor de grande rebanho, um pouco tresmalhado pois, as ovelhas iam e vinham, nunca sabendo qual o bocado mais saboroso, ao qual tirar um bocado.
Sempre te soube pastor, e embora outros cães empurrassem as ovelhas para aqui e acolá, ficavam alguns cordeirinhos reclamando o quinhão que julgavam ofertado.
Tarde ou cedo, quis o destino, que tu, pastor pobrezinho, deixasses algumas ovelhas negras, mastigar o matagal errado devagarinho…
Foi quando o cão alarve e arruaceiro, cumpriu a justiça para que foi denominado: rosnou, ladrou, mordeu a mão, deixando-te, pastor, destroçado.
Quis a má sorte que uma ovelha, negra negra como sombra do sol, abrisse a boca num largo balido, e parisse ali mesmo um sapo com pelo…em vez de milagre foi um pecado consumado e consumido!
Agora pergunto-te, pobre pastor, não viste que ela tinha procriado?
Estarias distraído por causa das águas e dos peixes, mergulhando, a brincar, na barragem ali ao lado?
Ou teria sido por causa do vento forte, que empurrando os ramos do sobreiro, partiu bocado a bocado?
Ou seriam os torrões amolecidos pela humidade de um terreno já triste e cansado de tão molhado?
Penso que revelaste onde tens passado o tempo…encostado ao cajado, distraído, ausente, sem ligares ao teu gado…
Tem cuidado pastor, com os lobos que são perversos, pois só de ouvirem um chocalho correm e caçam em alcateia organizada!
Mas não culpes os teus vizinhos, pelo mal encontrado, pois só tens tido carinho, pão e vinho assegurado para o caminho tranquilo que devias ter amado.
Ah! Pastor do cajado em punho, que adormeceste acordado, sonhando com o brilho do sol, com o perfume do mar, com poemas encantados…acorda! Veste a samarra, e os ceifões que o inverno ainda agora foi iniciado!