Prosas Poéticas : 

Carta à Mentira que Tu Foste ...

 
Carta à Mentira que Tu Foste ...
 
Évora, 08 de Maio de 2016

Aquilo que escrevo nestas linhas , mais do que uma carta é um desabafo. Porque afinal só as palavras me consolam, acompanham, acarinham ...
Que estranho é pensar no amor como tendo algo de suicida. Mas assim é. Assim o vejo. Assim o sinto. Assim o vivo ...

O amor a dois é perigoso, quando nós, que tanto trabalho temos para nos construirmos e sermos fortes, nos despojamos ali, de quaisquer fortalezas, diante de outrem a quem amamos, e que, por vezes, nem sabemos bem quem é ou como é! Levamos uma vida inteira para aprender a ser fortes e conseguir efectivamente sê-lo, e bastam apenas alguns segundos, ao nos darmos por completo a quem não nos vê nem sente, mas diz que sim, para entrarmos numa espiral recessiva sem retorno ...

Porque serão as coisas do amor tão complexas?! Tão difíceis?! Tão ásperas?! Não é o amor a entrega a outro?! O doce sabor da liberdade?! O sentir de expressão maior?! Porque se trata então de ter em torno a si tanta dor, mentira, sofrimento e amargura?! ... Porquê?! ... Terá o amor para ser amor que ser assim?!... Se assim é já o não quero sentir mais! Renego! Desaprovo! Rejeito-o ... Quando se não ama há vazio, mas quando se ama, há dor e desalento ... tal qual aquele dia, meu amor, em que partiste sem dizer adeus. Hora velha e negra, em que nem o Sol se via, e eu, vestia dor e solidão ...

Fiquei mais só. Acompanhado, aljofrado p'las mentiras que deixaste em teu lugar. Nem uma folha bulia ao vento pelas ruas da cidade quando tristemente a caminhei sem ti. E recordo os versos que escrevi naquela hora longa de melancolia:

Trago em todos os meus versos
extractos frios de um coração
olhos mudos e cansados
tristes, longos, enrolados
em lençóis de solidão!

Trago em todos os meus gestos
a fome de um mendigo
trago um rosto bem marcado
por um olhar de condenado
como um preso por castigo!

Trago em todos os meus dedos
calos duros do destino
e eis a Vida como é:
como um Mártir da Fé
que veste a Morte no caminho!

Tantas promessas sem sentido! Palavras vãs! Ocas e vazias! Despojadas de verdade! Tua boca era na realidade um poço frio e fundo de tantas ilusões! Como podes tu não te sentir mal ao recodares-te de mim?! Será que te lembras?! Que tipo de ser serás tu?! Haverá em ti uma Alma - ainda?! Será que algum dia a tiveste?! Quem dera que pudesses ler as palavras que deixo impressas neste pobre e pálido "pergaminho"-de-saudade, raiva, amargura e solidão! Para que soubesses o quanto te desprezo, o quanto te odeio e me odeio por ter acreditado nos "teus versos", o quanto desejo e anseio, no seio desta revolta que me esventra e corrói, que te façam, por minutos, ao menos, um pouco do que a mim fizeste durante tanto tempo! E que te fira no dobro!

Que a solidão seja a coberta que te envolve em cada noite que te deitas. Que a saudade seja a cama onde te acoitas, acompanhado ou não, sempre! - sempre!, até ao fim dos dias que viveres. Que a roupa que tu vestes seja a morte em alto mar que veste a barca de um marujo no meio d'uma tempestade que o vai tolher à vida! Que a comida seja o veneno que te mata, dia-a-dia, sem que o vejas nem o sintas. Que as palavras que disseres sejam espadas contra ti, e que os teus actos, quaisquer que sejam, até os bons, sejam para ti, facas, algozes e prisões. Que a minha raiva paire sobre ti como um fantasma de quem anseias o perdão, mas que, nunca, em tempo algum, sequer te escutará! A dor consumirá a tua Alma, o teu corpo devorado p'la angustia desejará o suicídio, mas até isso, te não assistirá, covarde, terás medo de o fazer, e condenado ao peso da idade, MORRERÁS EM VIDA, pouco a pouco!

Minha Glória será esquecer-te, enterrar-te nesta "lápide" longa e funda que aqui deixo nesta inscripção! Será de mim, em mim, p'ra mim a tua sepultura! Mas um dia, que esta carta, por teus olhos, seja lida. Compreenderás por fim o que ocorreu. E correrás para me encontrar, quererás a liberdade nessa hora de grande integração, mas será tarde, também! Estarei morto, e tu, morrerás por fim! E hei-de rir-me de ti! O inferno esperará a tua Alma para sempre, habitarás esse vale de sombras a que um dia também me condenaste! Que sejas para sempre maldito entre os vivos e depois maldito entre os mortos!!!

Despeço-me de ti, "meu amor",
e que a terra te seja leve, porque a vida,
será a tumba dos teus dias ...

Adeus!!!
Do sempre só!
Richard Mary Bay


Richard Mary Bay
"o Último Romântico"

 
Autor
SirRichard
 
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