Évora, 06 de Abril de 2016
Tantas vezes que meditei na utilidade de estar vivo! De viver a vida ... de amar alguém! Tantas vezes que meditei em ti, no teu rosto, no teu olhar ...
Nunca encontrei uma saída para esse pensar que mói na prisão de um triste e solitário labirinto! A minha vida começou quando te encontrei e julguei que acabava quando te perdi. Pensei que podia sobreviver agarrando-me à tua memória e a tudo o que em mim ainda vinha de ti. Talvez assim a nossa história se mantivesse viva, mantendo vivos os dois, juntos, em mim, para sempre! Debalde! Enganei-me! Dia-a-dia havia um vazio que não conseguia preencher com essa memória de ti.
Era o teu vazio. A tua falta. Porque afinal tu não estavas junto a mim ... não sei se conseguirei um dia voltar a amar, a abrir o coração ... sinto-me meio vivo, apenas. Algo se rasgou dentro de mim quando partiste. E esse "Algo", sendo tudo, hoje, não é nada, porque em mim só há cinza.
Devia ter-te detido. Devia ter ido atrás de ti. Devia ter-te pedido perdão ... por aquilo que não disse. Por aquilo que não fiz. Por tudo aquilo que não me permiti sentir por ti.
Tantas vezes me acusaste de ser bom com as palavras, mas apenas com as que escrevia, porque as faladas, vinham de mim como punhais, dizias. Dobres de sinos em dia de finados ... odeio-me porque nunca te entendi!
Agora, são inúteis os desejos, as vontades e as amarguras que deponho nestas linhas. É tarde! Tão tarde ... mas nunca é tarde, diz o povo. É mentira! Para nós são inúteis as palavras. É inútil todo o arrependimento que sinto. É inútil este amor que trago em mim e não soube expressar no tempo certo! Na hora exacta! São tristes estas palavras, as palavras que nunca te direi, porque nunca as poderás nem quererás escutar, nem lidas nem faladas ...
A perda faz parte integrante do meu caminho. Tudo o que sempre desejei, quis, lutei, apenas lhe senti um breve odor, porque sempre se esfumou. Só posso estar grato pelo privilégio de desejar o amor, de por Ele, querer ir em frente, vencendo tantas barreiras e obstáculos. Mas sempre só! Sempre acabei só!
"Há um Tempo para tudo debaixo do Céu ..." dizem as Sagradas Escrituras. Para mim, esse tempo é o não-tempo, porque o tempo certo, não existe, nunca chegará!
NA ROTA DO VAZIO
Trago num pensar feito de nadas
memórias que um dia serão morte
não lamento se as horas estão contadas
não sinto do meu corpo as passadas
passam breves, não é que isso me importe
afinal, minhas asas estão quebradas!
Já não tenho as asas que antes tive
no meu dorso as sinto consumindo
regresso a cada sitio onde estive
àqueles onde a morte fui vestindo
nada lá encontro, nada vive
tudo a cada dia vai fugindo!
Já não tenho esse regaço onde dormi
já não sinto o teu olhar profundo
já não sei daquela vida que vivi
daqueles versos que outrora te escrevi
da vontade de ser dono do mundo
quando afinal vivia só p'ra ti!
O silêncio, a dor e a tua ausência inspiraram-me nestes versos! Sinto tanto que os não possas ler ... que os não possas adoçar em teus lábios ... dói-me o corpo! Sinto-me vazio! De sentimentos, gestos e ideias ... porque só tu, és, afinal, o meu único sentir, o meu único gesto, terno e doce, a minha única ideia, a minha única morada! A minha casa é onde tu estás! Mas onde estás tu?! Sem ti, não tenho casa, nem tecto, nem família ... só me tenho a mim e à minha imensa solidão ... todos os dias te espero, todos os dias me faltas!
Mas olha, não me consumo mais nesta fogueira que me queima sem destino! Chega de me culpar e arrastar nesta amargura sem retorno."De nada vale chorar sobre leite derramado!" E já que te perdi que o saiba e possa assumir com a dignidade de quem perde e aceita perder! Na verdade não era nosso o destino de um amor que "vinga"! Não era nossa a alegria de uma vida partilhada onde os olhos e as mãos se entrelaçam e se condessam ...
Amor assim haverá em parte alguma?! Baterão tão altos, corações, dentro de alguns peitos?! Não creio! Não creio! ... Sinto-me só, tão só ... mas antes uma dor só que um lamento acompanhado. Não quero junto a mim um corpo frio! Tudo é inútil. O meu arrependimento, o meu amor por ti, esta carta ... tudo é escusado e indiferente ... tudo! Tudo!
Despeço-me de ti consciente da inutilidade da despedida, porque até ela, cairá no abismo e na ausência que povoam, ante mim, o vazio do teu olhar ...
ADEUS!!!
Do sempre só ...
Richard Mary Bay
P. S./ Perdoa ... esqueci a cor do teu olhar ...
Richard Mary Bay
"o Último Romântico"