Évora, 01 de Março de 2016
Meu Amor,
não sei se és tu o impossível ou a minha vontade, o meu desejo de sermos um! Não sei porque vieste tu, porque esperaste aquele instante (o suficiente p'ra te amar) e depois partiste, mergulhando num silêncio oculto e penetrante, caustico, perturbador como a névoa que se adensa na manhã que vem de longe! ...
Não sei o que é isto de me dar e não sentir que alguém se dê! Porque anseia o destino que em cada esquina da vida me encontre com quem não posso ter?! Porquê?!
Vozes de timbre cansado que dizem - se tivesse sido antes, tudo seria tão diferente! Já disse adeus a tanta gente e tanta gente me disse adeus, e meu peito, inquieto, chora ao ver passar o tempo ... que tristeza ser esquecido, que solidão ... Nuvens negras em Céu azul. Deserto longínquo e distante onde me afundo (seco, queimo ...) sedento de ti que me queres mas não me podes ter (dizes!...)!
Eu sei que pode ser mais forte o que nos une que aquilo que nos separa! Assim o saibas tu também! Assim o queiras ... As nossas Almas estão unidas, só o mundo não nos quer, nem aceita! Por mim, Amor, sou teu! Por mim somos possíveis. Aceito, opto por ti nesta selva sem amor onde só importam as aparências! Mas tu és para mim uma miragem, Essência, mas distante ... Só te quero amar! Nada mais! E tu? Que queres tu de mim? Alguma coisa? Quem dera que quisesses! Uma gota de silêncio, uma gota de saudade, um olhar, o teu olhar adentro ao meu ...
Já não tenho forças p'ra pensar, nem p'ra falar, nem escrever. Estou cansado de encontrar o desencontro em tanto olhar, em tanta voz, em tanto corpo! Porque tinhas tu que ser igual?! Porquê?! Na cama onde me deito, sinto ainda o cheiro do teu perfume, minha fria companhia, minha estranha madrugada, meu pensar que pensa, pensando e repensando sem pensar ... que me aglutina, esventra, corrói, enlouquece!
Ai, se tu soubesse a falta que me fazes, se conhecesses o quanto sofro ao escrever estas palavras miseráveis que não são carta nem são versos, que a nada se igualam, porque o que sinto, a nada é igualável, corrias p'ra me abraçar, aconchegar em teu regaço!
Mas nem isso irás saber porque nunca lerás este pobre e tremido desabafo! Não sei onde te encontras, onde vives, a quem te dás! De ti só sei os impossíveis que nós somos ... amantes desunidos, sem caminho ou direcção, desencontrados, onde nada já existe porque nunca nada existiu ...
Condenado em morte lenta, assim me sinto, assim me vejo, assim me sei ... água parada, esquecida, sem leito! Apetece-me abraçar-te - ainda - dizer que nada foi em vão, que nada é em vão, porque vão é o silêncio, o vazio e a solidão! E tu, dos três, não és nenhum ... TU és ISSO que me falta, o que não chega, o que não tenho.
Tudo o resto é passageiro! ... Não sei como posso eu esquecer-te! Mas tentarei ... acredita!
Despeço-me com angustia,
não de ti, mas da carta que acabei,
sendo o único que resta
dos Impossíveis que Nós Somos ...
Adeus!
Do sempre só!
Richard Mary Bay
Richard Mary Bay
"o Último Romântico"