O facto de ter acordado me saudar com um novo dia, permitiu-me novos encontros em todos os lugares; os de cá, e os de lá.
Tenho ainda presente que no alto da torre, existia um relógio antigo a tocar as primeiras badaladas. Anunciavam a chegada da aurora. De lá, podia ver-se a cidade. Toda ela, vigiava o sono dos que não sonham para viver, e dos que não vivem para sonhar.
Também se podia ver, quando da chegada da manhã, o seu desfalecimento, como se todos os credos da noite tivessem sido abafados pelos tons de azul, que clareavam a cada badalada do relógio.
Enquanto isto, a cidade…que antes tinha sido despojada pelo surgimento das horas matutinas, ganhava agora outra vida. Ouvia-se o barulho dos carros, algumas vozes nas ruas, os cães que se alimentavam do que restou da última morada da noite.
E, eu ali…a postos para ouvir a primeira badalada e seguir rumo ao meu, mais um dia.
Senti saudades da noite! É isso. Saudades da vida que encerra um dia e dá outra cor e movimento à noite. Há quem veja a cidade como um cemitério ambulante, e que as almas viajam para lugares novos quando a noite chega, ficando esta a velar os dormitórios, agora cheios de farrapos entrelaçados. São muitas as luzes que enchem a cidade. O seu brilho é digno de admiração e atenção.
Mas, enquanto a cidade vive para dar luz à noite, a noite dá novas cores aos olhos de quem dorme, sem saber se o sono é a viagem para o mundo dos vivos.
No sono há tantos mistérios guardados, que vivalma, sequer se entregou a ele e por lá se encantou, para trazer novos sonhos, mais renovados.
E eu aqui estou! Foi mesmo só por ter acordado e ver que a vida me deu mais este novo colorido, ao sentir que há vida em todos os lugares; - os de lá e os de cá.